segunda-feira, 6 de agosto de 2012

BAPTISMO DE GUERRA


O brutal ataque de milhares de homens da UPA, armados de catanas e canhangulos, sobre as Tropas do Bat. 114 junto ao rio Luica em Anapasso, fez que o Comando do Sector 3, face àquele ataque em massa do inimigo a cerca de 15Kms do Caxito e 20 Kms da Fazenda Tentativa, e face às informações recolhidas nessa altura, tomasse como iminente um eventual novo ataque de milhares de homens sobre aquelas localidades num movimento avassalador de massas humanas em direcção a Luanda.
Para interceptar e impedir tal movimento, foi dada ao Esq. 149, acabado de chegar de Luanda, a missão de organizar uma emboscada num ponto do itinerário possível do inimigo. Deslocados em viaturas um tempo e depois um longo tempo apeados e em grande silêncio por entre a mata cerrada, foram as tropas dispostas deitadas e alinhadas sobre o cume de uma elevação que dava para uma encosta de larga clareira riscada por vários carreiros de gentios.
Aí, desse modo e arma apontada com os dedos no gatilho, passámos horas intermináveis de temor, medos, tremuras e suores frios, de respiração suspensa e olhar fixado nos pontos em frente da mata de onde imaginávamos saísse uma mole de massa humana inimiga em hordas sucessivas.
Felizmente o inimigo não compareceu. E nós pudemos regressar ao acampamento na Tentativa depois de um baptismo de guerra sem o disparo de uma bala. Sentimos, contudo, convincentemente, que daí em diante a guerra, até quando silenciosa, era mesmo a sério e metia medo.

A 19 de Julho, junto do Estado Maior do Comando do Sector 3, o nosso Comandante Cap. Rui Abrantes, conhece a missão destinada ao Esquadrão 149. Nessa tarde, sob as gigantes e frondosas árvores da Fazenda Tentativa, o Comandante Cap. Abrantes manda formar todo o Esquadrão e informa as Tropas acerca de uma operação de grande dimensão, cheia de dificuldades e perigos à qual nos fora dada a honra de tomar parte.
E, grande conhecedor psicológico do crente camponês de Portugal, face aos rostos apreensivos dos Soldados, logo ali declarou convicto que não tivessem medo pois, tinha-lhe sido entregue uma caixa preta que detectava todos os terroristas quer estivessem à vista ou escondidos.
No dia seguinte, 20 de Julho de 1961, partimos aliviados de medos e confiantes no Comando, para o Ambriz.

.............................................................................................

Entrincheirados atrás dos capacetes de aço
estendidos ao longo do cume da colina
perscrutando a noite e o silêncio que retina
no corpo de alto a baixo,
o peito colado à terra, senti-a estremecer,
(ou seria o coração aos saltos a bater?)
do medo que faiscava no espaço
que ia da cabeça dos Soldados a Anapasso
onde se dera terrível combate frente-a-frente,
entre espingardas tiro-a-tiro
e canhangulos e catanas braço-a-braço,


Do livro "Esquadrão 149 - A Guerra e os Dias" de José Neves
..............................................................................................


Sem comentários:

Enviar um comentário