sábado, 22 de dezembro de 2012

ENCORAJAR A CORAGEM


No acampamento do dia 01Ago61 na Fazenda Matombe, o Comandante Rui Abrantes, já senhor de confiança total de seus Soldados, decide tomar nova medida de elevado brio e encorajamento militar à sua Tropa, Esquadrão 149. 
Nesse dia dá ordem de que nenhuma viatura do Esquadrão usasse qualquer tipo de blindagem de protecção de que tipo fosse. Quem pusera taipais de madeira ou chapa ou outro material como "blindagem militar" deveria imediatamente limpar as viaturas de tal empecilho para a visibilidade e mobilidade dos Soldados. 



Foi outra medida inovadora e exemplar face ao que se tornara prática geral nas Unidades que partiam para o mato na ZIN, Zona de Intervenção Norte.
Como toda medida contra-corrente, também esta suscitou reservas em alguns mais receosos que tinham implantado tal protecção por imitação do que tinham visto. 
Contudo o Capitão explicou que melhor que aquela "blindagem" abarracada era os Soldados terem boa visibilidade como prevenção e total mobilidade nos ataques do que estarem sujeitos a ficarem encurralados na viatura onde o inimigo lhes podia cair em cima. 
Isto acontecera com o Bat. Caç. 114 em Anapasso e o nosso Capitão, bom observador e estudioso militar, detinha-se nestes detalhes que eram de grande importância para a estratégia e encorajamento moral dos Soldados. 


O Capitão Comandante dava o exemplo no seu jipe

A coragem de um chefe quando aliada do estudo cuidado e bom senso constitui um exemplo determinante para os seu subordinados.
Uma coragem assim tem tudo para ser bem sucedida e, sendo bem sucedida, eleva a coragem dos que são sujeitos às medidas e tanto mais quanto constatam, na prática, a sua justeza.
Um Comando racionalmente corajoso eleva e encoraja, a todos os níveis, o moral e coragem individual dos Soldados e dá uma identidade especial à Unidade a que esses Soldados pertencem.


segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

SOLDADO MOURARIA



O MOURARIA SENDO ENTREVISTADO PELO REPÓRTER DA RTP NEVES DA COSTA

O Mouraria tinha este nome de baptismo militar devido ao bairro lisboeta de sua naturalidade. Mas também esse baptismo não era indiferente ao seu comportamento e falas característicos desse bairro genuinamente típico de Lisboa. A sua atitude e reacção perante a guerra estavam-lhe moldados na alma pela sua pertença humana ao bairro onde mourejara desde criança a adulto. 
Passar de repente a ser militar apenas lhe introduziu obrigações que cumpria por imposição mas jamais por qualquer compreensão de ordem ou disciplina. O seu comportamento militar, ainda para mais o rígido comportamento militar cavaleiro, era nada para a sua inocência de garoto criado à solta nas ruas cheias de gente viva e atitude fadista. 

 MOURARIA A RECEBER TRATAMENTO MÉDICO DO DR. JOÃO PIMENTA EM PLENA PICADA

Dos cinco feridos ligeiros que tivemos durante a batalha de Zala um deles foi o Mouraria. O inimigo atacou com uma canhangulada sobre o jipão onde ia o Mouraria e feriu-o na boca e nariz e outros nas mãos e pernas contudo sem gravidade. O disparo fora feito de longe para o alcance daquela arma artesanal e os estilhaços de ferro, que no canhangulo substituiam as nossas balas, tiveram um impacto superficial. 


O DR. JOÃO PIMENTA A SER ENTREVISTADO APÓS RECOMPOR O NARIZ DO MOURARIA

Foi precisamente no arranque de Quimazangue para Zala que ao Mouraria lhe veio à mente as suas memórias de garoto pendurado nos eléctricos entre a Mouraria e o Chile. Quando a longa coluna de viaturas estava alinhada na picada para arrancar e o Comandante Abrantes deu ordem de marcha, o Mouraria desata a gritar sem parar, "segue, segue vai pró Chile" enquanto imitava o cobrador do eléctrico no gesto de puxar pelo cordão que fazia tocar campainha de arranque.
Tal grito e gesto aplicado no momento certo e instantaneamente adoptado e replicado em todas as viaturas ecoou um a um até à viatura da frente da coluna, e esta lançou o grito e o gesto para a rectaguarda enquanto arrancava lentamente.
Desde esse momento feliz nunca mais o Esquadrão, em qualquer operação, grande ou pequena, montada ou apeada, deixou de usar a voz de arranque "segue, segue vai pró Chile".
Este grito e gesto, usados sempre em todas as abaladas do aquartelamento ou cada vez que a coluna arrancava ou partia durante as operações, foi imediatamente adoptado pelo Comando e tornou-se uma voz de comando e um símbolo do Esquadrão que, como outros, o distinguiam. 
O som musical do "segue, segue vai pró Chile" aliado do gesto do puxar do cordão e o imitar do tocar da campainha, sugeria uma minúscula peça teatral que nos entusiasmava e dava alma para, na hora de ir ao encontro do inimigo nos esquecermos dele, e no momento do enfrentar ter mais força e ânimo de o combater.
E tudo isto, que não foi pouca coisa, graças ao garoto reguila fadista que habitava no corpo de Soldado do Mouraria. 

CAMINHADA APEADA EM DIRECÇÃO A ZALA
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Lá vai o eléctrico às voltas
Segue chiando no seu carril
Leva um menino às costas
Segue, segue vai p'ro Chile

E o eléctico chia e rola, rola
Com o menino pendurado
Vai pró Chile, e não prá escola
E o menino foi p'ra Soldado

E o Soldado menino foi prá guerra
Com arma, balas, capacete, cantil
E o menino que o Soldado encerra
gritou, "segue, segue vai pró Chile"

Ó Soldado reguila, puto rufia
Do bairro pobre, tua moldura,
Que te legou nome "Mouraria"
E tu a nós um poema em Figura.

José Neves
Lisboa, 1997

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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

ZALA, BATALHA FINAL




A 5Ago1961, com base no aquartelamento de Quimazangue, desde madrugada fizeram-se duas surtidas com efectivo de Pelotão reforçado, em direcção a Zala. Embora com o apoio das viaturas a progressão fazia-se a pé muito lenta e cautelosamente com prévio reconhecimento por tiro das margens da mata, naquele local muito densa.
Destas incursões para testar o inimigo e desbravar caminho, a nossa Tropa sofreu vários ataques dos quais resultaram 5 feridos sem gravidade.


A 6Ago1961, saída do Esquadrão completo de Quimazangue para o assalto definitivo a Zala. Novamente o inimigo, disposto nas matas ao longo das margens da picada, nos obrigou a fazer a progressão apeados ao lados das viaturas fazendo tiro de reconhecimento e prevenção quase ininterruptamente.
As viaturas blindadas do Dragões de Luanda abriam o caminho na frente. O Cap. Abrantes, de Uzi ao ombro e em estilo de passeio encenando uma exibição contra o medo dava o exemplo aos Soldados, seguia pelo meio da picada incitando e encorajando os Soldados e gritava para que entrassem dentro da mata, destroçassem o inimigo e o perseguissem.     
O inimigo teve de recuar para o interior da mata impossibilitado de atacar das margens da picada com os canhangulos. Flagelaram a nossa Tropa do alto dos morros afastados com algumas armas automáticas. Nesta batalha ouviram-se mais que em outras o "cantar" das FBP que o inimigo havia tomado em Março nos Postos Administrativos e que nós já conhecíamos de cor mal soavam.
Desta batalha foram avistados elementos do inimigo em fuga e, posteriormente foram confirmadas baixas no inimigo.



Ao cair da noite o inimigo, impotente para nos travar, havia desistido do combate e a nossa Tropa pode ocupar Zala à vontade onde estabelecemos novo acampamento geral.


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A nossa Tropa avançava a pé ao lado das viaturas
à velocidade de poucos metros por hora,
pela picada estreita na mata cerrada, que não deixava ver de fora
para dentro, nada, além de sombras e manchas escuras
o que intimidava os Soldados, tanto como o intenso tiroteio
e as balas, que vindas de todos os lados, zumbiam rente ao ouvido.
Até que o Capitão, vindo de trás para a frente e pelo meio
da coluna, Uzi às costas, óculos, capacete, aprumado e bem vestido
gritou aos Soldados, alto, forte e feio, como uma besta,
que entrassem na mata adentro, vinte ou trinta metros,
para evitarem que a tropa inimiga, os pretos,
nos atacassem de perto, na orla da floresta.
Ordem imediatamente aceite e cumprida pelos Soldados
e que se mostrou acertada e deu bons resultados,
pois logo se viram, entre duas matas, numa clareira,
vários inimigos de armas na mão, fugindo na carreira.


Do livro "Esquadrão 149-A Guerra e os Dias" de José Neves.

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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

OBJECTIVO, DETERMINAÇÃO







Antes da arrancada para a tomada e ocupação de Zala, o Comandante Capitão Rui Abrantes deu uma entrevista ao repórter da RTP Neves da Costa, que nos acompanhava, na qual é evidente a  coragem militar e racional confiança e determinação imparável de atingir o objectivo final.
Nesse sentido, são inequívocas estas palavras dessa entrevista: 

"...Foi constituída esta coluna, que tenho o prazer de comandar, de gente que vai dirigida directamente a Nambuangongo, que sabemos havemos de aí içar uma bandeira portuguesa, não sabemos precisamente o tempo que vamos demorar, todavia os esforços no sentido de conseguirmos o mais rapidamente possível, galgar estes últimos Kms, já nos faltam menos de metade daqueles que já progredimos, e apesar de todos os obstáculos e quantidade de abatizes que nos são colocadas no caminho, arranjaremos o processo de, se não pudermos progredir por estrada à custa das viaturas, iremos a pé e chegaremos lá concerteza"  

 

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Todo o Esquadrão reunido e completo
deixa o estacionamento de Quimazangue e embala
em direcção do objectivo imediato, Zala,
determinado, atento, receoso e inquieto.
O inimigo atacava a cada passo
à medida que invadíamos a sua casa.
O estampido das FBP já era conhecido de ouvido e de cor,
os canhangulos ecoavam e espalhavam aço,
as Mausers espalhavam chumbo, os canos ficavam em brasa.
A guerra espalhava o terror.

Do livro "Esquadrão 149 - A Guerra e os Dias" de José Neves

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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

QUIMAZANGUE. SOUSA


 

Às 16,00 horas de 2 de Agosto de 1961, com dois Pelotões de combate reforçados por um Pelotão de Sapadores, iniciou-se uma manobra em profundidade para atingir rapidamente Quimazangue no caminho para Zala.
Durante 23 horas, dia e noite sem interrupção, como ficara determinado pelo Comandante após análise da situação e definição da estratégia a seguir, manteve-se a caminhada eriçada de dificuldades com a picada continuamente impedida por enormes valas e árvores de gigantesco porte abatidas e atravessadas (abatizes).
Quando possível contornavam-se os obstáculos, mas as dificuldades eram tantas que a nossa progressão não ia além dos 800 metros por hora. A progressão nocturna surpreendeu o inimigo, pois encontrámos muitos trabalhos de preparação não concluidos para emboscadas.
Informações do Comando estimavam a concentração de 2000 homens do inimigo na defesa de Zala situados na zona da bifurcação para Nambuangongo.
Às 15,00 horas de 3 de Agosto de 1961, a 1 Km de Quimazangue, o 2º Pelotão quando removia mais umas das inúmeras "abatizes" colocadas para impedir a nossa progressão, sofreu uma emboscada da qual resultou a morte do 2º Sargento Sousa com um tiro de canhangulo.
A reacção dos nossos homens foi imediata com um pelotão perseguindo o inimigo, em fuga através da mata, e outro Pelotão arrancou em força para Quimazangue, ocupou o quartel local do inimigo onde encontrou documentos e uma oficina de fabrico de canhangulos.


Estacionámos em Quimazangue na noite de 3 para 4 de Agosto de 1961 e neste dia procedeu-se á evacuação do corpo do Sousa para Ambriz, após lhe serem prestadas as devidas honras militares, permitiu-se o descanso da Tropa muito fatigada.
Para grande alegria da Tropa houve distribuição de correio recebido por lançamento aéreo. Também por inadvertido e lamentável lançamento aéreo caíram do avião um par de botas militares que tombaram sobre um Soldado que dormia ferindo-o gravemente.
Ainda nesse dia, alguém se lembrou de, aproveitando as fitas adesivas amarelas das granadas de artilharia e morteiros, fazer letras e escrever nomes garrafais amarelos sobre capotas e pára-choques das viaturas. O Comando não se opôs e algumas viaturas ficaram cobertas de palavras-mensagens ao estilo de uma naif arte militar sob a forma de cartaz graffitti da época.
Durante a noite o acampamento foi atacado por atiradores inimigos do lado da sanzala de Quimazangue a cerca de 800 metros do nosso acampamento.



Entretanto, a Quimbumbe havia chegado uma Companhia de ocupação do local para substituir os 1º e 3º Pelotões ali aquartelados para defesa da respectiva área. 
Os nossos Pelotões, cumpridas as formalidades de substituição, arrancam imediatamente ao encontro do resto do Esquadrão estacionado em Quimazangue. Juntam-se ao Esquadrão na madrugada do dia 5 de Agosto em Quimazangue e vão colaborar activamente na batalha da tomada de Zala.


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 O CORREIO

A distribuição do correio
era a festa do acampamento.
O grande momento
ansiosamente aguardado, também com algum receio
das notícias boas ou más que vinham no envelope
que mal era recebido pelos Soldados se afastavam,
isolando-se, com as cartas nas mãos que abriam.
E liam ávidamente, de enfiada, d'um golpe,
vendo-se claramente do que as cartas falavam
porque enquanto uns ficavam contentes e sorriam
outros ficavam preocupados, de rosto pesado e sério.
E outros que liam e reliam as doces palavras da namorada
entusiasmados, atiravan-se sobre a manta estendida
no chão, que era a sua cama sempre feita,
ajeitando-se como quem com uma mulher se deita
ou como se estivesse alguma ali deitada
meiga e sorridente, aberta e pronta, toda oferecida
ao furor
desse doce e indicifrável mistério
que permite a dois amantes fazer amor
mesmo, como neste caso, afastados meio hemisfério.


AS BOTAS DESCALÇAS

Quem manda nas nossa vida
Que manda dum avião cair
um par de botas descalças
descer por linhas falsas
sobre um Soldado a dormir?
Porque razão haviam de vir
aquelas botas cegas e tolas
sem nada dentro do cano
(guiá-las-ia algum desumano
deus escondido entre as solas?)
acertar, como balas de pistolas
do calibre dum pé 40,
sobre o sono d'um Soldado
que dormia e foi acordado
pelo peito, sob a acção violenta
do par de botas que o rebenta.


PALAVRAS AMARELAS

As velhas viaturas vestidas
de letras amarelas lidas
vistas como escrita-imagem
nossa para o nosso inimigo,
davam-lhe a clara mensagem
da determinação e coragem
dos sem medo nem abrigo.
As fitas amarelas das caixas
de granadas feitas faixas
sobre capotas e pára-choques, 
para que o inimigo as visse
bem, não eram inúteis ad-hocs
foram palavras força-fetiche,
nova caixa e lenços pretos,
palavras imagem-amuletos,
sinais de moral alta sempre fixe.


Do livro "Esquadrão 149 - A Guerra e os Dias" de José Neves


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sábado, 20 de outubro de 2012

149, CONFRATERNIZAÇÃO 2012


E o nosso encontro voltou a acontecer e foi, como vem sendo anualmente, um emocionado reencontro de histórias e episódios passados em comum.
Episódios dolorosos vividos e contados pelos próprios intervenientes, contados na primeira pessoa; tu e eu, ou eu e tu, ou eu tu e ele e ele, descritos com todos os pormenores do local, do tempo, da hora e do perigo.
Episódios reais, hoje contadas com alegria pelos sobreviventes, e porque são felizes ocasionais  sobreviventes de outros camaradas de guerra que tombaram a seu lado.
São sobreviventes do sol abrasador, da chuva torrencial, do pó às nuvens, duma casa em movimento perpétuo sobre quatro rodas e vinte e quatro horas dia e noite sob a mira das armas do inimigo. E por fim, sobreviventes de muitas balas de matar e até do impacto de balas no próprio corpo.

Mais que ninguém, são merecedores de trazerem impregnada na alma a dignidade de felizes combatentes limpos.

 

O ponto de encontro foi no "Parque Biológico" de Avintes, Vila Nova de Gaia

 

Em primeiro plano  "O CANHANGULO", um dos primeiros feridos com um tiro de canhangulo e daí a sua alcunha de guerra.

 

Foram nomeados os mortos em combate e lembrados e recomendados ao céu todos os mortos do Esquadrão e que vivem em nosso coração enquanto este bater. 




O convívio foi, como sempre, um longo e sempre curto momento de troca de velhas e novas recordações sobre episódios que cada interveniente conta, ao seu estilo, como foi, o medo que apanhou e o que aconteceu e, sobretudo, o que podia ter acontecido de trágico.   



  
À falta do nosso Comandante Cap. Cav. Rui Abrantes por motivos de saúde, falou aos combatentes o Médico do Esquadrão Dr. Ten. João Alves Pimenta, no tempo de guerra o segundo Oficial mais graduado da Unidade e, além de médico de elevada qualidade técnica, um Homem de grande humanidade sempre pronto a curar as feridas e as almas dos seus Soldados, e por isso muito querido e respeitado por todos.





É sempre com um "brilhozinho nos olhos" e grande entusiasmo que os combatentes vêem o filme da sua vida, "A GRANDE ARRANCADA" realizado pelos repórteres da RTP, Neves da Costa e Serras Fernandes, que nos acompanharam desde o Ambriz até Nambuangongo, e que relata exactamente a fulgurante progressão e os combates do nosso Esquadrão ao longo da reconquista do itinerário de 180 Kms e o hastear da bandeira em Zala e depois em Nambuangongo, juntamente com o Bat. 96 do Coronel Maçanita.



E, claro, não faltou o bolo e o champanhe que todos levantaram alto e brindaram com a tradicional galhardia da Cavalaria.  

sábado, 22 de setembro de 2012

CONFRATERNIZAÇÃO 2012



     EM COMEMORAÇÃO DOS 51 ANOS DO NOSSO EMBARQUE PARA ANGOLA EM 1961.

ESTE ANO ENCONTRAMO-NOS EM VILA NOVA DE GAIA NO LOCAL DE:

CONCENTRAÇÃO ÀS 10,30 NO PARQUE BIOLÓGICO DE AVINTES, VN DE GAIA

RESTAURANTE     : PÃO QUENTE BARBOSA
MORADA               : RUA CENTRAL de OLIVAL, 2736 SEIXO ALVO - OLIVAL - VN GAIA
TELEFONE             : 22 763 70 60
TELEM.                   : 962 811 672






SÃO PASSADOS 51 ANOS EM CIMA DA NOSSA JUVENTUDE DOS VINTES, O QUE PERFAZ UM TEMPO QUE PARECE ONTEM MAS JÁ FOI HÁ MUITOS ANOS.

AOS QUE TOMBARAM EM COMBATE JUNTO DE NÓS, FORAM-SE JUNTANDO  OUTROS NOSSOS CAMARADAS DE ARMAS QUE AO LONGO DESTE TEMPO, O TEMPO LEVOU. 

DIGNOS SÃO DE MEMÓRIA E HOMENAGEM TODOS ELES. AOS SOBREVIVENTES, ENQUANTO VIVOS E CONSCIENTES, COMPETE MANTER VIVA, MEMÓRIA DELES.

VAMOS, PORTANTO, PRESTAR-LHES ESSA HOMENAGEM DEVIDA E MERECIDA, ALÉM DE QUE É UM DEVER DE ALMA IR VER, ABRAÇAR, FALAR E RECORDAR EM CONJUNTO, AS NOSSAS VIVIDAS HISTÓRIAS DE GUERRA. 

AO TEMPO, UMAS DE CHORO OUTRAS DE ALEGRIA, HOJE SÃO TODAS UMA LEVEZA E FELICIDADE PODER RECORDÁ-LAS EM COMUM.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

FAZENDA MATOMBE

1Ago1961 foi dia de descanso das Tropas e preparação de estratégia militar para a tomada de Zala, a pouco mais de meia dúzia de quilómetros.
Na fazenda Matombe houve, pela 1ª vez, desde Ambriz, ração quente, higiéne de roupa e corporal e fez-se uma ida ao Ambriz para reabastecimento de víveres (comida, shop-shop, como lhe chamávamos).






Analizada a situação e o modo de actuar do inimigo usando a táctica de bater e fugir, em virtude das condições do terreno cada vez mais mais acidentado e coberto de mata fechada, e da concentração do inimigo para defesa de Zala, O Comando tomou novas disposições estratégicas para a progressão dali em diante.
O Comandante Cap. Abrantes, conversando com o Snr. Ribeiro, nosso guia e propritário de uma pequena fazenda de café local, soube por este acerca do respeito para-religioso que os nativos tinham pela noite e que entendiam que a noite era para estar ao fogo e com a mulher na cubata.
Esse conhecimento determinou o Comandante, sem reservas, em avançar de noite e dia sem interrupção.   
Esta medida criou alguma apreensão da parte dos militares mas revelou-se acertada e de grande alcance pois permitiu um avanço seguro sem emboscadas no tempo nocturno.



















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E o Comando, depois da reunião conjunta dos Oficiais
para análise da situação e decidir,
face à táctica do inimigo de bater e fugir
favorecido pelo terreno e outras condições naturais,
optou pela progressão veloz e contínua,
sem paragens além das que o inimigo impunha,
avançando rápido e em força, em cunha,
continuamente, dia e noite, aoSol ou à Lua,
surpeendendo o iniigo, não o deixando emboscar,
pressionando-o a ele e não ele a pressionar,
obrigando-o ao contacto, ao confronto
directo, batê-lo e assustá-lo ao ponto,
de levá-lo
a ter mais medo de nós que nós de enfrentá-lo.


Do livro "Esquadrão 149-A guerra e os Dias" de José Neves

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terça-feira, 4 de setembro de 2012

QUIMBUMBE - CASA ABERTA - FAZENDA MATOMBE

A 28Jul61, deixaram o acampamento de Quimbumbe todo o Esquadrão, incluindo a Tropa adida, como o Pelotão dos Dragões de Luanda, com excepção do 1º e 3º Pelotões que ficaram a guarnecer a posição atingida.
Antes, como contámos já, um Pelotão enviado em missão de reconhecimento caíra numa emboscada donde resultaram dois feridos, na nossa Tropa, sem gravidade.
Percorridos 20 Kms atingimos Quimbunda ao anoitecer, após destruição do quartel local do inimigo, acampámos aqui e na madrugada de 29Jul61 arrancamos em direcção a Casa Aberta. Sentiu-se, desde aqui, que a prograssão era mais demorada e perigosa pois, a picada cercada de floresta densa, em pior estado e mais acidentada, estava semeada de gigantescas árvores derrubadas pelo inimigo e atravessadas em todo o percurso com vista a dificultar ao máximo a nossa progressão.
Tanbém o inimigo, cada vez mais acantonado no seu recuo e em defesa de seus quarteis-generais, mostrava-se cada vez mais frequentemente e melhor armado. Com tais dificuldades de progressão impostas pelo inimigo, atingimos Casa Aberta a 4Kms do estacionamento anterior.


De novo, na madrugada de 30Jul61, antes do arranque da totalidade do Esquadrão do bivaque de Quimbunda, um Pelotão ainda noite, antecedeu a saída das Tropas em missão de reconhecimento, exploração e desobstrução do itinerário. De novo o inimigo atacou emboscado e fez-nos um ferido, que após os primeiros socorros foi evacuado para Luanda. O inimigo actuou com uso de armas automáticas e não só com os tradicionais e artesanais canhangulos.
A 01Ago61 atingimos a região da Bela Vista e o Esquadrão acampou na Fazenda Matombe. Esta era uma pequena fazenda de café, propriedade pessoal, local de trabalho individual e residência fixa do Snr. Ribeiro que nos acompanhou e fez de guia. A Fazenda estava toda destruída e os ossos, dos corpos dos seus familiares comidos pelas hienas, estavam espalhados pelo terreiro à volta de sua casa de fazendeiro pobre.

À medida que avançávamos superando perigos cada vez maiores, íamos ganhando experiência de guerra e mais avisadas e conscientes opiniões iam surgindo acerca da condução da guerra, do modo de avançar com menores riscos, como avançar mais cautelosamente ou mais temerariamente.
O Comandante Cap. Rui Abrantes de tudo tomava nota e, conhecedor não só das opiniões dos seus oficiais, mas também da informação e opinião do Estado Maior de Operações e da situação no terreno das outras Unidades envolvidas na Operação Viriato, começara a imaginar e delinear a estratégia a tomar face ao comportamento do inimigo.


Eram percorridos 110 kms desde Ambriz e estávamos a 30 kms de Zala. Era preciso retemperar forças e definir uma estratégia para enfrentar a tomada de Zala, e de seguida caminhar em direcção a Nambuangongo.

Entretanto, no Quimbumbe, continuavam acampados os dois Pelotões
que ali ficararam guardando aquela posição tomada, por ordem do Cap. Comandante.
A situação aqui começara a complicar-se pela inactividade, pela permanência isolada e exposta a um perigoso ataque do inimigo, por falta de apoio logístico em víveres e correio.

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Entretanto em Quimbumbe, remetidos
ao acampamento e à subsistência,
os Soldados dos Pelotões esquecidos
tinham entrado em falência
de mantimentos e rações de combate,
e paciência.
Sentiam-se meio abandonados e não tidos
em devida conta pela outra parte,
que na frente se batia e abria caminhos,
enquanto eles, sem meios, parados e sozinhos,
sentiam de uma forma ridícula
a sua posição de Tropa de quadrícula.

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Ao quarto dia acabaram-se as rações de combate,
a fome estava instalada e, embora ainda não mate,
abalava fortemente o moral da Tropa toda
que ali estava e decidiu então
ir há caça, embora perigoso e proibido pelo Capitão,
na esperança de fazer uma boda
à roda de um churrasco de veado,
cagando no proibido, perigo e medo que pôe de lado,
pensando muito terra-a-terra
que, entre morrer de fome ou da guerra;
«que se foda».


Do livro "Esquadrão 149 - A Guerra e os Dias" de José Neves.

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