terça-feira, 10 de maio de 2022

A GUERRA RÚSSIA - UCRÂNIA & A AUTO-EXTINÇÃO.

1. A Ladainha dos Putinistas

É um tristeza total e um sintoma de irracional mal estar humano ver tanta gente que defendeu a injustiça da guerra colonial por ser utilizada por um ditador e que chamou, com razão e sem reserva de dúvida, fascista colonialista imperialista ao ditador Salazar, digo, é um sentimento frustrante vê-los agora defenderem o contrário perante uma situação semelhante.

Basta reparar que tais troca-tintas, na defesa de uma invasão sempre negada e nunca declarada mas transformada numa destruição massiva e matança ad-hoc, nunca pronunciam as palavras-chave que gritaram nas ruas no 25Abril; Democracia e Liberdade.

Também, especificamente, só anunciam as barbaridades cometidas pelos regimes democráticos e ocultam ou desculpam as barbaridades iguais dos regimes totalitários que são cometidos sob ocultação da sua própria opinião pública submetida à censura e perseguição política feroz do regime totalitário protagonista. Mais, nunca referem que, por exemplo, nas democracias as opiniões públicas nacionais derrubam guerras e governos quando estes persistem em manter invasões e guerras que deixam de ter sentido como no caso icónico do Vietnam. 

Usam uma ladainha de valores de verdades em que o agressor e invasor nunca é o agressor nem o invasor mas tudo tem um princípio e uma causa de há anos ou séculos históricos que culpabilizam o invadido e massacrado; ao jeito de, se não foste tu foram os teus avós ou antepassados. Iniciam sempre a sua ladainha de verdades preconceituosas com uma causa histórica inicial conveniente cometida pelo inimigo ideológico como, por exemplo, as matanças dos nazis de Azov sobre russófonos mas o contrário nunca existe; o incitamento e apoio ao separatismo dos russófonos nunca existe, nem sequer o diabólico pacto entre Hitler e Stalin para dividir a Polónia fifty-fifty entre ambos.  E muito menos o massacre genocida gratuito de indefesos prisioneiros polacos em Katyn logo após a invasão e divisão da Polónia, sempre negados e só reconhecidos há cerca de dez anos assim como a ajuda militar dos USA a Stalin para que este aguentasse a frente Russa aquando da preparação para a invasão dos aliados na Normandia.

O mesmo com os fervorosos democratas europeus, agora virados pró-totalitaristas putinistas indisfarçáveis, que nunca se referem à ajuda americana que nos salvou do barbarismo racista hitleriano, e muito menos iniciam neste caso ou outros como este as suas idas aos factos históricos.
Num dos últimos “o último apaga a luz” da RTP a tonta senhora académica do painel perguntava para quê a UE ajudava a Ucrânia quando era sabido que “Putin não ia parar a guerra” pelo que, o subentendido prático da mensagem era que a Europa devia render-se e ajoelhar-se face ao ditador uma vez que a sua vontade imperial era não parar. 

O homo sapiens, está provado, que no início exterminou todos os outros humanos concorrentes, um dia auto-exterminar-se-á numa guerra total contra a vida humana no planeta.

 

2. Salvar ou matar a vida na terra, eis a questão.

Neste momento, passados três meses de guerra, já é perfeitamente visível quer a mentira quer o erro e falhanço de previsão de Putin e seus estrategas. 

A mentira grosseira quando afirmava não querer invadir a Ucrânia mas que apenas se tratavam de manobras, intimidatórias, claro, e até simulou um regresso das tropas a quartéis quando na verdade, a pedido do outro totalitarismo chinês amigo, estava apenas a aguardar que os jogos olímpicos de inverno em curso na China terminassem. Hoje, tudo é claro, dada a invasão e o visível planeamento militar dessa invasão prova de que tudo estava decidido e planeado ao pormenor quando foram enviadas as tropas para a fronteira; só por si a invasão é prova de facto planeado pois nenhuma operação militar de tal envergadura era possível sem um planeamento prévio ao pormenor.

O erro e estrondoso falhanço inicial da invasão russa está na subjectiva e falsa ideia que bastava o rugido das infindáveis colunas de tanques e dos canhões para assustar os ucranianos e levá-los à rendição imediata face à grandiosa, assustadora e brutal máquina de guerra russa em marcha. E, também, a eventual ideia de que a população local russófona sairia à rua aplaudir as tropas "libertadoras" do nazismo ucraniano invocado pelos russos invasores. 

Não foi assim, pois a inesperada resistência ucraniana tornou o plano de invasão militar de fácil em muito complicado e duro em perdas humanas e material. Foi preciso gizar novo plano além da necessidade de lançar mão de armas sofisticadas como misseis e, sobretudo, fazer a ameaça chantagista do emprego de armas nucleares hipersónicas. Chantagistas não porque tais armas-foguetes russas não possam existir e ser mesmo hipersónicas mas porque o facto de serem mais rápidas não significa que esteja livre de uma resposta igual do inimigo; este terá armas nucleares dispostas em locais secretos, em submarinos, porta-aviões e outros grandes navios e até, provavelmente, em permanência no ar para qualquer eventualidade que, mesmo após um ataque surpresa hipersónico, sobrará sempre armas nucleares para uma resposta de potência equivalente ao ataque inicial imprevisto.

Nem Deus nem a Natureza se importam ou ligam ao que quer que seja ou ao que quer que o sapiens faz, disputa e guerreia entre si. Depois de exterminar toda a concorrência humana ao longo de milhares de anos, finalmente, quando o homo-sapiens atingiu a época histórica humanista planetária parece predisposto a fazer a cama onde se deitará para dormir ou para morrer.

Verdadeiramente a invasão russa do país ucraniano assenta numa falsa questão que não é mais que um pretexto para a invasão. O argumento da proximidade das armas nucleares da Nato junto às fronteiras russas; como dizemos acima as armas nucleares existentes estão apontadas em cerco uns dos outros por todos os ditos países nucleares. Por outro lado, uma vez a Ucrânia tomada e feita terra russa, mais se aproxima da Nato e suas armas nucleares o que torna o argumento do perigo do cerco Nato num contrassenso. Tudo isto além da impossibilidade física de cercar um país com a dimensão bi-continental da Rússia.    

Outro forte contrassenso a acrescentar aos acima referidos foi a confissão russa de que é possuidora de misseis hipersónicos que mais nenhum país possui. Tudo indica que Putin andou todos estes anos a aperfeiçoar armas que lhe dessem uma vantagem militar, precisamente, no campo de ganhar tempo ao inimigo no eventual ataque nuclear; isto é, no momento em que obtém vantagem supersónica de ataque nuclear relativamente ao seu inimigo promove uma invasão de outro país com o argumento contrário da desvantagem temporal por motivo de proximidade. 

Se os argumentos para a invasão são falsas questões porquê a invasão militar Russa em pleno Séc. XXI e plena globalização de trocas comerciais, mais ou menos harmoniosas e complementares, entre muitos países que conseguiram, por tal bom relacionamento comercial de trocas, a libertação de milhões de milhões de pessoas da miséria histórica para uma situação de vida compatível com o mínimo requerido para se prosseguir no caminho de atingir uma ideologia planetária, a humanística comunitária global.

Porquê Putin, com a invasão ucraniana, decidiu romper com a estratégia de entendimento de trocas vantajosas para ambas as partes com a Alemanha defendida, contra tudo e todos, por Merkel? Não só destruiu tal bom entendimento de interdependências mútuas como obrigou a Europa a nova reaproximação à Nato e ao rearmamento, inclusive, a um possível poderoso rearmamento militar e nuclear alemão. Que estratégia de futuro a longo prazo definiu Putin para a nação russa? Apenas tomou em conta a manutenção e imposição de respeito pela grandeza imperial histórica da mãe russa que pensou despromovida e humilhada no atual conserto das nações? Gastou rios de dinheiro do petróleo e gás para se dedicar, quase exclusivamente, ao rearmamento e grandeza militar tornando-se, por tal, num médio país como potência económica ao contrário da China que se fez uma potência económica para ser depois, solidamente, uma potência em todos os sentidos.  

Então para quê invadir, inexplicavelmente com falsos argumentos, o seu vizinho de origens e ligações históricas comuns, para mais, quando este dependia totalmente do comércio fronteiriço e especialmente do gás e petróleo russo e não constituía qualquer ameaça militar à poderosa Rússia?         

O discurso de Putin ontem, no dia da vitória russa sobre os nazis, denota ou um disfarce teatral das suas verdadeiras intenções ou um sentimento de necessidade de apaziguamento de quem se meteu num sarilho tamanho do mundo que agora tem dificuldade em resolver a seu contento; foi comedito sem novas ameaças de armas nucleares hipersónicas ou de outras vantagens técnicas em armamentos secretos e até usou de uma linguagem mais defensiva para os mesmos argumentos da guerra tipo blitzkrieg preventiva que pensou e mais aquele novo argumento de que a Nato se preparava para atacar território russo.    

Também o argumento de que esta é uma guerra entre os gigantes militares USA e Rússia e seus respectivos aliados pelo domínio global, é usado por quem se quer fazer passar por equidistante e que a guerra está para além das nossas opiniões e vidas quotidianas. Sendo verdade, na realidade, apenas repete um dado histórico que existe desde que o homo sapiens exterminou a concorrência humana e ficou único humano senhor do mundo. Não acrescenta nada de novo e apenas repete o que sempre foram as guerras entre os mais poderosos e seus aliados para domínio total desde que há registo histórico humano e, certamente, foi igualmente o caso nas disputas entre gens e tribos primitivas para domínio dos seus pequenos mundos conhecidos na altura; acerca da ideia das guerras se tornarem sempre uma disputa directa ou indirecta entre interesses de superpotências, nada de novo sobre a terra. 

Novo, novo sobre a terra é levar uma contenda à possibilidade de extinção da vida humana por auto-holocausto do sapiens sobre a terra quando já é preciso a concertação de todos para salvar a vida na terra de morte natural.