sábado, 10 de agosto de 2019

HOMENAGEM AO SOLDADO JOAQUIM FERRAZ DE AGUIAR



O nosso Camarada 1º Cabo Cardona, incansável lutador pelo reconhecimento e salvaguarda da valiosa memória histórica do nosso Esq. Cav. 149, não sossegou a alma enquanto não descobriu o paradeiro do corpo, tresladado de Angola e sepultado em Portugal, do nosso Camarada Soldado Nº 267/61 Joaquim Ferraz de Aguiar tombado em combate junto do Rio Lué em Quipedro-Angola no dia 31.08.1961.
A 30 de Agosto o 1º Pelotão saiu de Quipedro para Nambuangongo para realizar novo reabastecimento. Ao regressar, no outro dia, o inimigo emboscado na floresta junto da picada atacou com armas automáticas e atingiu mortalmente o Soldado Aguiar que ia na frente da coluna.
Esse dia foi igualmente inesquecível para o Cabo Cardona pois também ele ia nessa coluna conduzindo a sua GMC e foi atacado com 23 tiros de pistola-metralhadora que deixaram outros tantos buracos na porta da viatura.
Os guerrilheiros apontaram à primeira viatura e às do meio da coluna e o Aguiar foi a única vítima no meio do intenso tiroteio. A morte do Aguiar simboliza um sacrifício em defesa de todos os restantes Camaradas que sobreviveram.
Por isso é dever de reconhecimento que todos os Camaradas sobreviventes, que o possam fazer, deslocar-se no dia 31.08.2019 pelas 11H00 ao Cemitério do Alto de S. João, Rua Morais Soares em Lisboa para em conjunto descerrarmos uma placa-lápide de homenagem, memória e reconhecimento do Esq. Cav. 149 para com o Camarada tombado em nossa defesa.

PS: Concentração às 11h00 à porta do cemitério do Alto de S. João, Lisboa dia 31.08.2019.

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dia 30 Agosto de 1961

Soubemos também ainda, e a mim
soube-me mal especialmente
após a Longa Viagem quase sem fim,
que o meu Pel. tinha imediatamente
de ir a Nambuangongo buscar
alimentos e o 1º Sargento.
Fiquei, por dentro a protestar
o meu sentido descontentamento.
(Fizera a Longa Viagem por via doutoral
com uma mesclada de vária gente
por haver, na altura, muito pessoal doente
do corpo, da alma, do coração, do emocional).
Ou seria o meu calado e agudo sentimento
dos medos e receios, suores frios e pouca fé
que tinha, cada vez que atravessa o Lué?.
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dia 31 Agosto de 1961

Já nós subíamos o mesmo monte     
que a coluna descia e levava às profundidades
do vale cerrado de mata (que foi o nosso Hades)
com o rio ao fundo, (que foi o nosso Aqueronte)
de águas caudalosas e a ponte destruída
que era a armadilha dos caçadores de vida,
quando um forte disparo se ouviu no ar.
Depois ouviram-se rajadas e as rajadas
do nosso lado, rajadas de morrer e matar,
rajadas de balas cruzadas,
rajadas cegas de brancos metidos numa gaiola,
rajadas falhadas de pretos a disparar e a dar-à-sola,
rajadas que deixaram marcas em viaturas furadas.

Mas foi o seco e forte disparo ouvido primeiro 
quem deixou marca sangrenta de arrepiar.
Uma bala 12.7 rasgada na ponta entrou no peito
e saiu pelas costas feitas um buraco, a sangrar
a vida e a alma e o futuro a que tinha direito
o Soldado 267/61, que fora o Escoteiro
Joaquim Ferraz de Aguiar.
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Excertos dos poemas "Diário de Quipedro, o Rio Lué  I" e "Diário de Quipedro, o Rio Lué  IV" do livro de José Neves "Esquadrão 149, A Guerra e os Dias".