sábado, 19 de outubro de 2019

ESQ CAVª 149, FÁTIMA 2019




Continuam realizando-se os  "Encontros" desta "Família" constituída de 1961 a 1963 percorrendo perigos e picadas, trilhos, matas e lugares interiores do mato angolano.
Constituída e baptizada sob o fogo das armas de guerra conquista a sagração no sangue dos mortos tombados em combate.
Fosse a guerra aquilo que se considerava ser no seu tempo ou fosse aquilo que depois foi ou será para a história e que ainda está em discussão, isso nada nos incomoda ou nos impede de celebrar a camaradagem e amizade inscrita em nossas peles e consciências pelo sangue dos nossos mortos e feridos derramados ao nosso lado e em nossa defesa.
Nenhuma discussão académica, acerca do que foi ou será a guerra colonial ou do ultramar, diminuirá nossa consciência de termos sido combatentes dignos enfrentando muitos e variados perigos de morte ou vida a que estivemos continuamente expostos.
Nos nossos encontros de celebração aos combatentes mortos e aos ainda vivos estamos daquele lado humano que celebra a camaradagem e fraternidade que a guerra nos proporcionou para além de quaisquer feitos militares que também realizámos.
     

domingo, 15 de setembro de 2019

ESQ. 149, ENCONTRO CONFRATERNIZAÇÃO 2019

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É já no próximo dia de 12 de Outubro de 2019 o nosso tradicional ENCONTRO anual para estarmos, convivermos e comemorarmos juntos durante mais umas horas inesquecíveis e também celebrar a memória dos nossos mortos tombados em combate e os outros que foram sobreviventes da guerra mas que a labuta de muitos anos pela vida já os roubou da nossa companhia.
Somos cada vez menos mas, precisamente por isso, torna-se um dever de respeito e memória não deixarmos no esquecimento uma parte tão importante da história da nossa juventude.
Sentimos que quanto mais avançamos na idade mais vivemos das nossas memórias e aqueles que têm um espólio de memórias tão rico como nós, os combatentes de guerra, não devem menorizar ou menosprezar esse espólio adquirido em defesa comum da vida de uns pelos outros.
A guerra não é coisa recomendável mas a camaradagem e a amizade nascidas sob a luta comum de vida ou morte durante aquele tempo melhor da nossa juventude é inesquecível e só a nossa morte a pode matar.
        

HOMENAGEM AO AGUIAR SOLDADO Nº 267/61, DISCURSO DO FURR. MIL. CONTREIRAS


 

Antes de mais o nosso agradecimento aos presentes  que se dignaram juntar-se a nós nesta cerimónia de homenagem ao nosso herói comum aqui sepultado.
Aos ex-combatentes de Marco de Canavezes terra natal do homenageado.
Aos dirigentes da Associação do “Lanceiro” nossos amigos sempre prontos a colaborar com o Esq. 149.
Aos familiares do Aguiar que também quiseram associar-se a esta homenagem ao sobrinho e primo herói da família.
E, claro, aos camaradas do inesquecível Esq. 149 que preservam a memória do seu camarada herói morto em combate.
E um agradecimento muito especial e sentido aos Escoteiros que são os principais responsáveis por este Memorial erigido para ser a digna última morada do nosso camarada de armas Joaquim Ferraz de Aguiar.
Nós, os seus camaradas do Esq. Cav. 149, logo após a sua morte, só pudemos no dia seguinte dar-lhe uma morada no local do acampamento mas nem por isso deixámos de lhe dar um funeral cristão e prestar-lhe as devidas honras militares.
Para os militares vivos do Esq. a guerra continuou igual como antes e a luta pela sobrevivência durante 28 meses e mais três baixas e muitos feridos, inevitavelmente, fez esquecer o nosso único morto que não pudemos enviar para Luanda.
Felizmente o Aguiar, militar do inigualável Esq. 149 também era militante dos Escoteiros e estes tiveram a grandeza de o retirar da cova de Quipedro e dar-lhe uma morada condigna de um herói.
Faltava, contudo, dar uma direcção, um endereço, uma referência familiar a essa nova morada, completar a sua identidade.
Faltava juntar de novo o Aguiar aos seus camaradas de armas.
E faltava que os seus camaradas de armas e de guerra viessem aqui junto dele prestar a devida homenagem ao herói que tombou em combate em sua defesa.
E logo que soubemos da sua morada aqui quisemos fazer-lhe companhia e aqui estamos, e aqui vamos ficar.
Com esta placa-lápide restituímos ao nosso herói o seu endereço militar que, tal como é para nós, também será para ele um orgulho voltar a pertencer á família deste glorioso Esquadrão 149.    
Com esta homenagem à memória do Aguiar cumprimos um dever em falta e igualmente é também para nós uma honra e orgulho enorme voltar a estarmos junto do nosso herói morto.
Herói morto que, uma vez aqui imortalizado na pedra deste monumento e no bronze desta placa, vai continuar a conviver com os vindouros e nós estaremos, a partir de agora,  junto deles, escutando-os.


Lisboa, 31.08.2019

HOMENAGEM SOLDADO AGUIAR Nº 267/61; DISCURSO DO 1º CABO CARDONA



HOMENAGEM SOLDADO AGUIAR 267/61; DISCURSO DO SOLDADO VÉSTIA


quarta-feira, 11 de setembro de 2019

HOMENAGEM AO AGUIAR: DISCURSO DO SOLDADO 77/61 RAMIRO ANTÓNIO DE SOUSA

Ramiro António de Sousa Soldado 77/61, condutor da viatura ao lado do qual tombou morto o Soldado Aguiar em 31.08.1961


quarta-feira, 4 de setembro de 2019

HOMENAGEM DO ESQ 149 AO SOLDADO 267 de 61 JOAQUIM FERRAZ de AGUIAR



Como estava anunciado, no dia e hora prevista, cumprimos  o nosso dever de prestar a merecida e devida homenagem ao nosso camarada Joaquim Ferraz de Aguiar, Soldado 267/61 do nosso glorioso Esquadrão de Cav. 149 tombado em combate na frente da coluna junto do Rio Lué em 31.08.1961 pelas 18H00.
Estiveram presentes na homenagem com os seus nobres pendões representantes da Associação de Ex-Combatentes de Marco Canaveses, sua terra natal que também já prestaram homenagem local aos seus mortos incluindo o Aguiar e da Associação o Lanceiro admirável e abnegada gente que se dedica a preservar a história da Cavalaria de Portugal.
Igualmente presentes estiveram os Escoteiros nas pessoas de dois representantes da Unidade Escoteira a que pertencia o Aguiar e digna responsável pela trasladação do corpo desde Quipedro em Angola para Lisboa e pelo projecto desta sepultura condigna de um herói no cemitério do Alto de S. João.
E, dada a persistência do Cardona, tivemos presente connosco a senhora Aurora da Conceição Ferraz Conde de Oliveira, tia e a familiar viva mais próximo do Aguiar, o primo António Morais Vieira Aguiar e muito emocionante e simbolicamente a senhora Celestina Andrade Rodrigues na altura namorada e madrinha de guerra do Aguiar que muito nos sensibilizaram e honrou.
E, claro, tivemos connosco mais uma vez um grupo de camaradas do nosso inimitável Esq. Cav. 149 entre eles o Ramiro António de Sousa, Soldado 77/61 condutor da viatura onde seguia o Auiar e o Ernesto Augusto Vestia, Soldado 205/61 que dedicaram palavras mui sinceras e comoventes ao amigo e camarada Aguiar.
Falaram, por fim, o José António Botas Cardona 1º. Cabo 106/61 incansável alma impulsionadora e organizadora dos nossos encontros que marcam e preservam a memória do Esquadrão 149 e o Fur. Mil. Adolfo Pinto Contreiras, camarada amigo e ajudante do Cardona.
A encerrar a pequena-grande homenagem ao Aguiar falaram alto e em uníssono todos os presentes cantando o Hino Nacional.
 

sábado, 10 de agosto de 2019

HOMENAGEM AO SOLDADO JOAQUIM FERRAZ DE AGUIAR



O nosso Camarada 1º Cabo Cardona, incansável lutador pelo reconhecimento e salvaguarda da valiosa memória histórica do nosso Esq. Cav. 149, não sossegou a alma enquanto não descobriu o paradeiro do corpo, tresladado de Angola e sepultado em Portugal, do nosso Camarada Soldado Nº 267/61 Joaquim Ferraz de Aguiar tombado em combate junto do Rio Lué em Quipedro-Angola no dia 31.08.1961.
A 30 de Agosto o 1º Pelotão saiu de Quipedro para Nambuangongo para realizar novo reabastecimento. Ao regressar, no outro dia, o inimigo emboscado na floresta junto da picada atacou com armas automáticas e atingiu mortalmente o Soldado Aguiar que ia na frente da coluna.
Esse dia foi igualmente inesquecível para o Cabo Cardona pois também ele ia nessa coluna conduzindo a sua GMC e foi atacado com 23 tiros de pistola-metralhadora que deixaram outros tantos buracos na porta da viatura.
Os guerrilheiros apontaram à primeira viatura e às do meio da coluna e o Aguiar foi a única vítima no meio do intenso tiroteio. A morte do Aguiar simboliza um sacrifício em defesa de todos os restantes Camaradas que sobreviveram.
Por isso é dever de reconhecimento que todos os Camaradas sobreviventes, que o possam fazer, deslocar-se no dia 31.08.2019 pelas 11H00 ao Cemitério do Alto de S. João, Rua Morais Soares em Lisboa para em conjunto descerrarmos uma placa-lápide de homenagem, memória e reconhecimento do Esq. Cav. 149 para com o Camarada tombado em nossa defesa.

PS: Concentração às 11h00 à porta do cemitério do Alto de S. João, Lisboa dia 31.08.2019.

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dia 30 Agosto de 1961

Soubemos também ainda, e a mim
soube-me mal especialmente
após a Longa Viagem quase sem fim,
que o meu Pel. tinha imediatamente
de ir a Nambuangongo buscar
alimentos e o 1º Sargento.
Fiquei, por dentro a protestar
o meu sentido descontentamento.
(Fizera a Longa Viagem por via doutoral
com uma mesclada de vária gente
por haver, na altura, muito pessoal doente
do corpo, da alma, do coração, do emocional).
Ou seria o meu calado e agudo sentimento
dos medos e receios, suores frios e pouca fé
que tinha, cada vez que atravessa o Lué?.
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dia 31 Agosto de 1961

Já nós subíamos o mesmo monte     
que a coluna descia e levava às profundidades
do vale cerrado de mata (que foi o nosso Hades)
com o rio ao fundo, (que foi o nosso Aqueronte)
de águas caudalosas e a ponte destruída
que era a armadilha dos caçadores de vida,
quando um forte disparo se ouviu no ar.
Depois ouviram-se rajadas e as rajadas
do nosso lado, rajadas de morrer e matar,
rajadas de balas cruzadas,
rajadas cegas de brancos metidos numa gaiola,
rajadas falhadas de pretos a disparar e a dar-à-sola,
rajadas que deixaram marcas em viaturas furadas.

Mas foi o seco e forte disparo ouvido primeiro 
quem deixou marca sangrenta de arrepiar.
Uma bala 12.7 rasgada na ponta entrou no peito
e saiu pelas costas feitas um buraco, a sangrar
a vida e a alma e o futuro a que tinha direito
o Soldado 267/61, que fora o Escoteiro
Joaquim Ferraz de Aguiar.
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Excertos dos poemas "Diário de Quipedro, o Rio Lué  I" e "Diário de Quipedro, o Rio Lué  IV" do livro de José Neves "Esquadrão 149, A Guerra e os Dias".

quinta-feira, 18 de abril de 2019

MEMORIAL, HOMENAGEM AOS COMBATENTES NEXENSES II




Após terem sido detectados a existência de mais combatentes na Freguesia de Santa Bárbara de Nexe foi decidido fazer nova placa de nomes gravados incluindo todos os novos combatentes agora reconhecidos.
Foi também melhorada a inscrição feita dos nomes, agora, em colunas verticais o que permite um destaque adequado para um encontro e leitura ácil.
E, mais uma vez, foi decisivo o trabalho voluntário, a vontade conta a indiferença, o gosto contra o desleixo, a dedicação contra o desprezo, o fazer contra o falar do sempre eficiente e sempre combatente José Coelho Mestre; o Cardona da minha Terra.
O nosso camarada José Neves do Esq. 149 leu a fechar a cerimónia junto ao Memorial o seguinte poema:

SER COMBATENTE 

Estamos de novo reunidos em acto reverente
perante este Memorial que nos respeita
a memória viva de Soldado sempre presente
gravada na pedra a mais bela forma eleita
de legar aos vindouros a inapagável gente
valorosa que deixou marca de coragem feita.

Pode parecer coisa pouca participar apenas
na guerra mas nela a vida joga-se no instante
de arrepiar dos tiroteios e da bala rasante
que de repente tomba vidas plenas
que foram promessas de futuro radiante
e volveram lutos e lágrimas de piedosas cenas.  

A guerra é o medo e a incerteza de estar vivo 
em cada dia e de sair ileso em cada combate
é o viver de alma aflita e do medo cativo
é viver entre chuva de balas e nenhuma o mate
é comer o pó das picadas sob o sol agressivo
a ração fria diária que era da fome um resgate
é expor a via à morte sob o falso imperativo
que obriga o Soldado a ser carne para abate.

E ser herói também é ser um sobrevivente
que foi a todo perigo de morte submetido
onde só a sorte de um acaso inconsciente 
ditava quem era herói vivo ou herói caído
quem era chamado à terra ou ficar de pé frente
à luta de arma pronta e pronto erguido
firme na defesa do camarada ao lado
porque ser herói e ser Soldado
tem como primeiro valor e condição exigente
mais que ter ido à guerra é ter sido combatente.


José Neves, Fur. Mil. combatente 
do Esq. Cav, 149, Angola 1961.1963

domingo, 10 de março de 2019

HIGINO GÍRIA DA CRUZ ALGARVIO, SOLDADO 294/61 DO ESQ. CAVª. 149, COVILHÃ 2006.



O Soldado 294/61 passou quase desapercebido pela guerra tendo sido, contudo, muito apreciado pelo grupo de seus camaradas de armas mais próximos.
E foi assim porque foi um militar cumpridor que nunca levantou ou criou o mais pequeno problema quer entre camaradas quer aos seus superiores de Comando. Acerca dele ninguém conta ou se lembra no Esquadrão de ter alguma vez tomado uma actitude heróica mas também qualquer actitude de medo ou recusa de participar em qualquer operação arriscada.
Realmente, o Algarvio, viveu a guerra com a mesma presença, àvontade e boa disposição como se nunca tivesse saído ou continuasse entre as pessoas amigas e familiares da sua Aldeia natal. 
Para ele a guerra era uma passagem, mais ou menos arriscada e breve, para regressar de bem consigo e livre à sua terra e ao seu trabalho de bobinador de máquinas eléctricas de que era Mestre e era o gosto maior da sua vida.
Voltou à sua Oficina e ao seu trabalho técnico para o resto da vida passando por altos e baixos mas nunca lhe faltou a boa disposição e alegria de viver segundo os seus princípios de bondade e simplicidade inabaláveis.
Foi sempre, na guerra e fora dela, um verdadeiro herói anónimo.