quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

NATAL, NATAIS.

NATAL DE 1962

Nesse Natal longínquo de há 41 anos , o Esq. 149, a caminho do fim de Comissão em Angola, estava aquartelado em Bolongongo com pelotões nas povoações do Quiculungo e Terreiro e um pelotão destacado na Roça Rodrigues & Irmão, a cerca de 80 Kms e próximo da nascente do Rio Dange.

Nesta Roça para onde era destacada Tropa de protecção às pequenas Fazendas à volta, o perigo maior era a qualidade da àgua e os mosquitos: ao fim dos quinze dias de permanência da Tropa metade já estava tomado de paludismo, não obstante haver uma bomba-máquina para tratamento da água com "halozon".

Nesta zona acidentada de farta mata, muito afastada de povoações e sobretudo muito custosa para desmatar e fazer fazenda de café, pouco apetecida pelos grandes fazendeiros, foi o local possível a deportados do continente para demarcarem terreno e encetarem, de iniciativa e esforço próprios, a sua fazenda isolada do mundo além dos contratados vindos do Sul Bailundo. Escolhendo as suas mulheres de entre esses contratados, a prole para o trabalho doméstico e na mata de café crescia na medida dos pés de caféeiros.

José Neves no seu livro "Esq. 149 - A Guerra e os Dias" assinala esse facto assim, no poema " A Comer Terra e a Plantar":

...........................................................
Assim nasceu, segundo reza a lenda,
a primitiva pequena fazenda
pelos condenados desordeiros
ao exílio p'rás terras do ultramar,
qual imitação de avós marinheiros
redimidos a comer mar e a remar,
eles se redimiram como fazendeiros
a comer terra e a plantar.

e no poema "Os Contratados":

Os contratados vinham do fundo
do mapa, país do povo Bailundo
das terras do fim do mundo sem fim,
sem nada saíam das secas e desertos
para durante dois anos completos
tratar do café, das matas e capim
a troco de quase nada de pilim
em angolar. Em cada roça havia
um rentável negócio montado
onde o bailundo era obrrigado
a comprar tudo o que a roça vendia
sem alternativa, que d'alí não saía
durante os dois anos de cativeiro.
.......................................................
.......................................................


Seguem-se fotos desse Natal de 1962 passado, na Roça "Rodrigues & Irmão", pelo pessoal do 1º Pelotão, na altura destacado nesse local. Parte do almoço foi frango assado, obtido na Roça, e comido na marmita regado com a inseparável "cuca".


NA PICADA O JIPE QUE VEIO DE PROPÓSITO FAZER O REABASTEIMENTO DE RANCHO MELHORADO PARA ESSE DIA ESPECIAL DE NATAL.


Nesta altura de fim de ano, os contratados terminaram o seu contrato de dois anos e estavam de regresso às suas terras natal do Sul. Dias depois, em vésperas de abalada, fizeram uma festa ao seu uso e tradições , bem regado com vinho do "Puto" vendido na Roça e que era a sua perdição.
Dançaram e cantaram canções tradicionais bailundas imperceptíveis para branco, mas certamente adequadas à festa do regresso a casa. Provavelmente com a mesma alegria com que nós, Tropas, festejámos o nosso regresso a casa depois dos anos de Angola.

Uma dessa canções que eles cantaram enquanto andavam em fila indiana à roda do aldeamento da Roça, foi esta gravada na altura com um gravador monofónico comprado em Luanda, e que se pode ouvir aqui.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

DESONESTIDADES HISTÓRICAS

Jornal "lanceiro" Nº 27 - janeiro de 2007

MORTOS E FERIDOS NA OPERAÇÃO VIRIATO. REPOSIÇÃO DOS FACTOS.

No livro "Guerra Colonial" de Aniceto Afonso e Matos Gomes, no relato da tomada de Nambuangongo diz-se, escrito em caixa, a propósito dos feridos e baixas havidas por cada Unidade envolvida na referida operação "Viriato", que o Esqudrão 149 teve 7 feridos.
Se os autores quizessem ser historiadores sérios para escrever certa a história da tomada de Nambuangongo, tinham bastos elementos de registo a consultar para saber a verdade sobre o número exacto de baixas do Esquadrão 149.
Desde logo a morte do 2º Sargento Manuel de Sousa em Quimazangue, o qual está registado em filme "A Grande Arrancada" filmado pela equipa da RTP que nos acompanhou nesse percurso, Neves da Costa e Serras Fernandes, e é incluido na generalidade dos documentários que passam na TV sobre a Guerra Colonial. Outro documento escrito, imprescindível, para fazer a História do Esquadrão 149 é o livro do Ten. Mili. Médico Dr. João Alves Pimenta "História do E. Cav. 149 - Mais Faz Quem Quer Do Que Quem Pode", escrito durante os acontecimentos e editado ainda em Luanda em 1963, antes do embarque do Esquadrão.
Se os autores do referido livro "Guerra Colonial" tivessem o cuidado e dever histórico de consultar os documentos existentes indiscutíveis sobre o assunto ou actores testemunhos ainda vivos, não caíam no erro grosseiro de registar números que deturpam a memória futura sobre o Esq. 149 e também sobre a História da Guerra Colonial que travámos.
Teriam constatado facilmente que o Esquadrão até Nambuangongo teve 1 morto e 8 feridos entre eles três evacuados.

E muito importante, tinham oportunidade de conhecer uma boa lição de táctica militar aplicada sobre como enfrentar melhor a guerra de guerrilha, no seu estado de acção na altura, e que só o Comando do Esq. 149 intuiu, face ao estudo e análise da actuação do inimigo, e que logo empreendeu evitando com tal táctica mais feridos e baixas. Diz-se no livro do Dr. Alves Pimenta acima citado:
"Ao contrário do que aconteceu com as outras Unidades que progrediram em direcção a Nambuangongo (Bat. 96 e Bat. 114), que sofreram ataques em massa, o E.Cav. 149 não permitiu esses encontros. Foi das três, a Unidade mais rápida a progredir e, além disso, actuou no sistema de não criar hábitos que pudessem servir de referência ao inimigo. Nunca estacionou mais de três dias na mesma posição e iniciou a táctica da progressão nocturna". E prossegue: " o efeito de surpresa alcançado pelas acções realizadas contra o quartel de Cavunga (do inimigo), devem ter provocado não só desmoralização como não permitiram a sua organização eficaz".
De referir ainda que a progressão nocturna encetada não parava durante o dia: o Esq. passou a progredir continuamente noite e dia sem interrupção até Zala. E o mesmo fez de Zala para Nambuangongo e mais tarde em todas as operações em que participou.

A certificar a justeza destas palavras ditadas ao Dr. Pimenta pela experiência vivida, estão os acontecimentos passados menos de um mês apenas depois da tomada de Nambuangongo. Após um dia de descanso o Esq. 149 foi incumbido de desobstruir e ocupar a povoação de Quipedro, distante 75 Kms, onde permaneceu 24 dias estacionado. Nesse período de permanência acampada, imóvel, alvo estático, tivemos ataques e emboscadas consecutivas que originaram 2 mortos, dois feridos graves evacuados ( um cego e outro um joelho desfeito), e váris feridos ligeiros.
A prova dos nove da realidade descrita pelo Dr. Pimenta. O inimigo, neste caso teve todo o tempo para conhecer os nossos hábitos e rotinas de deslocações e movimentos de modo a preparar ataques com eficácia, dramática para a Nossa Tropa. Sobretudo a nossa necessária obrigatoriedade, sem alternativa, de ter de atravessar o Rio Lué a vau numa cova cercada de mata cerrada, altamente propícia aos ataques do inimigo que aproveitou bem, para nosso mal, tal situação favorável.

Recomenda-se aos autores do livro citado que sejam históricamente criteriosos e investiguem os dados e fontes irrefutéveis, ou testemunhos ainda ainda vivos dos episódios, para poderem relatar os factos tal como se deram e não como outros alheios aos acontecimentos os contam ou ficcionam. É que, constata-se a existência de erros semelhantes, a respeito do Esq. 149 na operação Viriato, em outros livros da responsabilidade dos mesmos autores. Iremos falar deles em seguida.

sábado, 5 de dezembro de 2009

149, OS DOCUMENTOS DE HEROICIDADE II

QUADRO DE HONHA
LOUVOURES
Adicionar imagem
OS/2 - QG/RMA, de 05Jan62.
O General Comandante da Região Militar de Angola, LOUVA o ESQUADRÃO DE CAVALARIA Nº 149. porque "tendo recebido, na operação «Viriato», uma missão identica à que foi atribuida a unidades de escalão superior (abertura de itinerários convergentes em Nambuangongo) conseguiu com os seus limitados meios e os reforços que lhe puderam ser fornecidos , alcançar um sucesso digno de maior admiração, porquanto atingiu Nambuangongo, pelo itinerário mais longo, apenas com o atrazo de 16 horas sobre a força que aí chegou primeiro, apesar de ter iniciado as operações dias depois."
E porque" Não menos brilhante foram as actuações desta unidade quando, após um dia de descanso em Nambuangongo, se lançou sobre Quipedro." E pela " colaboração que prestou, 15 dias mais tarde, na operação desencadeada na Pedre Verde, actuando sobre a linha narural de retirada do inimigo."
E porque "O número de baixas sofridas pelo E. CAV. 149 - 4 mortos e 40 feridos, dos quais 6 irrecuperáveis - é suficientemente expressivo e constitui o pesado tributo da glória que alcançou."




OS/2 - QG/RMA, de 05Jan62.
O General Comandante da Região Militar de Angola, LOUVA o Capitão de Cavalaria, RUI COELHO ABRANTES, Comandante do Esquadrão de Cavalaria nº 149, porque "...soube imprimir à sua Unidade - mercê do seu elevado moral, sangue frio, audácia, competência profissional, emergia e iniciativa que possui - uma mobilidade de tal forma exemplar que lhe permitiu com os reduzidos meios de que dispunha, surpreender o inimigo em todas as circunstâncias e manter o ritmo de progressão de que é fiel testemunho a fulgurante marcha que realizou sobre Nambuangongo em 16 dias".

























OS/14 - QG/RMA, de 16Fev62.

O Comandante Chefe das Forças Armadas de Angola, considera por sí conferido o Louvor da OS/2 - QG/RMA de 05Jan62, com a redacção seguinte:
LOUVADO o Capitão de Cavalaria, RUI COELHO ABRANTES, Comandante do ESQUADRÃO DE CAVALARIA Nº 149. ....


























OS/4 - ECav. 149, de 07Ago61.
LOUVO o Senhor Ten. Mil. Médico, JOÃO ALVES PIMENTA, porque... "aproveitou todos os momentos disponíveis para o tratamento dos doentes", e porque..."Registo também o seu temperamento calmo, destemido e decidido por forma a conseguir imediatamente socorrer os homens feridos", e porque... "deixo registado a qualidade fundamental do médico militar saber aliar a sua elevada competência profissional à noção exacta da missão a cumprir pela Unidade a que pertence".
























OS/8 - ecAV,149, DE 08sET61

LOUVO o Senhor Ten. Mil. Médico, JOÃO ALVES PIMENTA, "porque... trabalhou incansavelmente durante várias horas, sem se alimentar, afim de evitar o perigo de vida em que se encontrava uma das praças, operando-a e ministrando soro..."
























OS/10 - EcAV. 149, de 17Set61

LOUVO o Senhor Ten. Mil. Médico, JOÃO ALVES PIMENTA, porque "durante a operação de transposição do Rio Dange, demonstrou mais uma vez o seu elevado espírito de corpo, cooperando em todos os trabalhos realizados, aliando as sua qualidades militares ao prestígio angariado como médico durante o tempo que serve neste Esquadrão, por forma a conseguir um rendimento de trabalho difícil de igualar".
E porque "É um oficial exemplar, dotad de espírito de sacrifício inexcedível, com cultura digna de nota, e cujo prestígio ao fim de tão pouco tempo de serviço nesta Unidade é já de molde a merecer o reparo de quantos o rodeiam. Sente-se este comando orgulhoso por entre os seus oficiais, estar incluido um, cujas qualidades excedem em muito as habituais, não só
do ponto de vista técnico, como de virtudes militares."
























OS/60 - Com. Sect.3, de 19Mai62
OS/12 - ECav. 149, de 29Mai62
O Comandante do Sector Operacional nº 3, LOUVA: O Senhor Ten. Milº Médico, JOÃO ALVES PIMENTA, porque " nomeadamente na operação "VIRIATO" para a abertura do eixo Ambriz-Nambuangongo-Quipedro e operação "ESMERALDA" para a limpeza da região da PEDRA VERDE, demonstrou uma alta e heróica compreensão da grandeza do dever militar e da disciplina pelos acttos de rara abnegação , valentia e coragem que com grande sangue frio e serenidade praticou nas diversas situações de combate que teve de enfrentar." "Da sua decidida e enérgica atitude e notória acção do ponro de vista clínico, especificamente nas accções que ocorreram nas regiões de QUIMAZANGUE e QUIXICO, em que pôs bem em destaque aquelas virtudes, resultou uma confiança e prestígio tal entre os seus camaradas e subordinados, que muito contribuiram para o elevado moral do pessoal e bom êxito das operações da sua Unidade".
























OS/11 - QG/RMA, de 06Fev63

LOUVADO o ten. Mil. Médico, JOÃO ALVES PIMENTA porque "há mais de um ano no CONGO, se evidenciou um Oficial destemido", porque " Em QUIXICO foi notória a acção do Dr. Alves Pimenta" que " tratou ininterruptamente durante cerca de seis horas o soldado ferido mais gravemente, afim de lhe se possível salvar a vida..."
"Os serviços deste Oficial devem ser considerados relevantes e distintos."

























Justamente, estes dois Homens, o Capitão RUI ABRANTES e o DR. JOÃO ALVES PIMENTA, são considerados por todos que constituiram o corpo de pessoal do Esquadrão 149, os dois heróis maiores da nossa Unidade. E tal consideração foi estabelecida logo durante e passado que foi o comportamento do Esquadrão na operação Viriato(Nambuangongo), depois em Quipedro e Pedra Verde.
Neste caso último com o feito temerário e único da transposição do Rio Dange sobre uma jangada improvisada no local com paus arrancados da mata, tábuas e bibons velhos abandonados, e o Esquadrão completo, homens, equipamentos e GMC com 14 Ton., transpuseram o Rio sob a presença do inimigo, sem a mínima perda.
Tudo isso só foi possível devido à confiança determinada que os homens do Esquadrão depositavam no seu Comando, especialmente nestes dois heróis maiores que, cada um no seu mister, se conciliavam e completavam perfeitamente para alcançar o objectivo com êxito total .

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

DR. JOÃO ALVES PIMENTA V

DEPOIS DAS BALAS, DEPOIS DE... (x)

Depois das balas e carne rasgada
quem de pronto nos acudia?
Depois das feridas e estilhaços
quem de mão firme e armada
de garrotes, lancetas e cirurgia
sarava buracos, cosia pedaços?
Depois de meses de mato e mato
e perda mental quem nos protegia?
Depois da moral em baixo e fadiga
física das batidas, que mãos e trato
humano nos animava e nos valia,
nos devolvia a alma na mão amiga?
Depois d'afugentar mortes a lanceta
quem salvou vidas quase alminhas?
Depois de resgatar soldados à morte
quem foi noite fora dar à Mãe preta
menino preto, pretinhos e pretinhas
salvas por suas mãos saber e porte?
Depois de tanta guerra e tanto bem
distribuir, quem foi herói imparcial?
Depois de tanta vida e tanta luta
nobre a dar a mão e levantar recém
almas caídas, quem foi umbilical
cordão entre vida e morte em disputa?
Depois de tanta guerra e vida veloz
a zelar vidas, resta apenas o coval?
Depois do derradeiro combate
pode o céu levá-Lo, que para nós
será memória viva, que a Um Tal
Homem nenhuma morte há que o mate.


José Neves
Gorjões, 10.10.2007

(x) - Poema lido na confraternização anual do Esq. Cav.ª Nº 149
em homenagem ao Dr. João Alves Pimenta.
Évora em, 13.10.2007

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

DR. JOÃO ALVES PIMENTA IV


Foi ante-ontem, dia 28, no palácio D. Manuel em Évora, a apresentação pública do livro de M. Reis "Dr. João Alves Pimenta - Um Modo de Estar na Vida". Trata-se de um apanhado biográfico dos factos mais relevantes que "visa transmitir um conjunto de testemunhos sobre a vida de um Homem", como se diz no prefácio. E esse Homem é precisamente o Dr. João Alves Pimenta, o que foi o nosso Ten. Médico, amigo e irmão sempre presente, na guerra em Angola.









EM MEMINO COM OS PAIS
















COM A IRMÃ ROSÁRIO















COM OS PRIMOS

















RAPAZOTE ADOLESCENTE
















TEMPOS DE COIMBRA


















TEMPO DE TROPA
















TEMPO DE GUERRA
NO ESQ. CAV.ª 149








Após a recepção aos convidados, Ana Beatriz R. Ferreira leu um poema de M. Reis "Parar é Morrer", onde consta:
"...Procurou soluções p'ra situações desesperadas/Deu luta à morte sem tréguas e confortou corações".

Seguiu-se uma intervenção do Dr. António Santana Maia:
"...como diziam os romanos, o que não está nas actas não existe, o mesmo acontece hoje, só existe o que fica escrito, daí a importância deste livro na medida em que o Dr. Pimenta pela sua verticalidade e honradez, pela sua dedicação aos outros e à causa pública, é uma daquelas vidas que merece ficar registada para servir de exemplo a todos nós para mais num tempo tão carente de bons exemplos" .

E depois, uma intervenção do Dr. Sertório Leal Baraona:
"Falar do amigo Dr. Pimenta traduz para mim alguma inibição por não poder dizer algumas coisas que gostava de evidenciar. Uma delas, ou várias delas, seria enunciar em primeiro lugar, os defeitos do meu amigo Dr. João Pimenta. Só que não posso, não sou capaz, não sei como, sou ofuscado pela amizade e pela dimensão moral, intelectual e como médico deste cidadão livre que se estabeleceu em Évora há mais de quarenta e dois anos. E isto leva justamente a esta homenagem que é mais que merecida, é justa, e para além de justa, reflecte que ainda há cidadãos, como todos que aqui estão e muitos outros, capazes de renconhecer aquilo que é óbvio e evidente numa sociedade moderna. Temos que valorizar quem faz bem, quem é competente, quem arrisca a sua vida em benefício dos outros, que leva uma esteira de acção continuada de como médico, tendo como objectivo: o bem estar, a saúde e o futuro dos doentes. Sem sombras de dúvidas, e mais, e sem interesses pecuniários que alimentem a sua vida. Eu recordo, é um facto, que o Dr. Pimenta não cobrava consultas à maior parte das suas pacientes".

Houveram depois pessoas da assistência que quizeram prestar o seu testemunho e reconhecimento pessoal ao homenageado biogafado em livro pela sua vida exemplar de Homem que, como as árvores, sente o vento, acena mas nunca perde as raizes e sua verticalidade.
Entre essas pessoas falaram o Ex-Furriel Adolfo Contreiras que leu uma resenha do que está abaixo já publicado neste sítio. Outro elemento do Esquadrão 149 que interveio foi o Ex-Soldado Américo Nunes que afirmou(cito de memória):
"...Não fui para a guerra para ser herói nem me considero tal. Fui obrigado, contra vontade e passei mal de fadiga, alimentação, doenças e sobretudo corri perigos de morte constantes. Contudo, hoje reconheço que, apesar de tudo, só para ter conhecido, convivido e ter como amigo pessoas como o Dr. Pimenta valeu a pena ter estado lá, na ingrata guerra colonial".

























Falou ainda o Presidente do Município de
Évora para agradecer a honra que era para Cidade ter uma figura ilustre, pela postura cívica e qualidades profissionais e humanas, como a do Dr. João Alves Pimenta.





E por fim houve ainda lugar a um "Momento Musucal" a cargo da Tuna Académica da Escola Superior de Emfermagem de S. João de Deus de Évora, onde o Dr. Pimenta è professor.
Seguiu-se a indispensável recordação de marcar o livro com a estimada assinatura do autor.






























































































































sábado, 28 de novembro de 2009

DR. JOÃO ALVES PIMENTA III

DISCURSO DO DR. PIMENTA NOS 25 ANOS

Discurso do Dr. João Alves Pimenta perante os antigos militares e familiares do Esq. Cav.ª 149, pronunciado em Lanceiros 2, Lisboa, em 15 de Outubro de 1988, na confraternização comemorativa dos 25 anos do regresso de Angola.

Note-se como o Dr. com emoção sentida se dirige aos seus amigos com quem conviveu no mesmo sofrimento de agruras e dificuldades no perigo e privações do dia a dia de guerra sem quartel. Como nos indica que devemos ter orgulho, e não vergonha, na nossa passagem pela guerra e como esta, no nosso caso, foi uma escola para a vida tornando-nos mais fortes e melhor preparados para enfrentar as novas agruras da vida civil posterior. Como nos informa que não aceitou ir para promoção ao posto seguinte, capitão, para não deixar o Esquadrão e nos abandonar. Como nos atribui a todos a dignidade de termos pertencido a uma Unidade ímpar de heróis e se despede como Irmão.
Resta comentar que se o Esq. 149 foi o que foi, uma escola de Homens, a ele, que foi o seu melhor Professor e Mestre lhe devemos substancialmente.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

DR. JOÃO ALVES PIMENTA II


AO DOUTOR JOÃO ALVES PIMENTA E ESQUADRÃO 149 (x)

Eu fui, dado nunca ter sofrido “baixa” e o Dr. Pimenta me dar sempre como apto, o graduado que provavelmente em mais operações participou. Cumpri integralmente todas as instruções do Alferes Ribeiro, meu comandante directo, com a coragem e racionalidade necessárias para o bom desempenho das missões. Cumpri a tropa e a guerra sempre numa actitude de serviço e lealdade quer para superiores quer para subordinados. Nunca fui ferido mas fui muitas vezes atacado, o meu pelotão teve 3 baixas, 2 mortos e um evacuado, dois deles eram da minha secção. No Mucondo, o tiro que matou o Pires, valente e digno Soldado raso, foi dirigido a mim e só por erro e por milímetros falhou o alvo apontado. Por feitio e por consciência moral, sempre encarei o cumprimento do dever, mesmo sob risco, como mais um acontecimento da vida a enfrentar com normalidade, sem tremideiras a pensar no futuro. Contudo a visibilidade deste comportamento, que ainda hoje pratico e julgo correcto, nunca ultrapassou o espaço de opinião do meu pelotão. Quero dizer com isto que, durante a nossa guerra, fora do pelotão, ninguém deu pela cumpridora normalidade da minha presença, penso até que o Cap. Abrantes apenas soube que existia após as nossas primeiras confraternizações anuais e o Cap. Fernandes nem isso. Contudo, não estando eu em observação sob o olhar nem no espírito dos meus camaradas deu-me todo o tempo e liberdade para ser eu próprio o observador do comportamento humano dos nossos militares face à guerra, ao perigo, ao isolamento, tal como reflecti e descrevi no meu livro sobre o Esquadrão 149.

Mas sem dúvida o maior e melhor observador, com olho clínico, médico-psiquiatra para além do de zeloso pai e mãe da família acampada, foi o nosso inimitável e ímpar Dr. João Alves Pimenta. Aliás, a parte substancial das observações sob o estado físico e moral das tropas que refiro no meu livro, são de sua exclusiva autoria, retiradas do livro que escreveu sobre o percurso militar do Esquadrão. O Dr. Pimenta tinha, tem, todas as qualidades que descrevi acima como minhas, mas ele tem inúmeras mais, tantas que abarcam todos os caracteres humanos, em tal qualidade e perfeição que ultrapassa qualquer fasquia, numa disponibilidade e entrega total e sob uma honestidade e afabilidade inultrapassáveis. Ele foi o grande responsável pela boa saúde física, mental e moral da nossa Unidade, além de homem de elevada competência técnica, moral e intelectual posta ao serviço de todos igual. Pôs todo o seu saber e mestria, sem distinções, ao serviço de todos e imediatamente grangeou o respeito e admiração do Esquadrão, soldados e oficiais sem excepções, e deste modo todos confiassem nele como médico, mas sobretudo todos sentissem e confiassem nele como o pai, a mãe, o mestre ou o confidente.

O nosso Dr. Pimenta curou tudo o que havia para curar e salvou todas as vidas que era possível ainda salvar. No Quixico, durante uma noite inteira, operou com lancetas e garrotes à luz de gambiarra e salvou pernas e uma vida. Estando em Luanda accionou todos os meios necessários para, mal o Palhavã chegasse ao hospital, tudo estivesse a postos e salvou-lhe a vida. Em todos locais de acampamento habitados, foi médico dos indígenas igual como para a tropa e, alertado correu sempre, noite ou dia, para a cubata na sanzala para salvar mães e crianças de parto. A sua postura face aos feridos e doentes foi sempre de total abnegação e guerra feroz à morte. Só não curou os que lhe chegavam à mão já mortos, mas mesmo a alguns desses considerou-os vivos para que fossem transportados e sepultados em Luanda, para mais facilmente poderem ser resgatados depois os corpos.

Quem ler o meu livro com alguma atenção crítica, facilmente detectará ao longo de toda a narrativa, mas muito especialmente em alguns poemas, a existência de dois heróis acima de todos; o Cap. Rui Abrantes e o próprio Dr. Pimenta. O livro termina afirmando, como corolário do percurso e feitos militares do Esquadrão e consequentes constantes perigos e duros sofrimentos que passámos, ao longo de todo o tempo de guerra, que afinal todos foram merecidamente heróis. É verdade, mas a força de vontade, a força anímica, a coragem serena, a conduta cívica e militar exemplar existente no interior da Unidade, que conduziu ao comportamento heróico geral, teve a sua fonte, foi cultivada e tornada organizada e consistente por força da capacidade e exemplo destes dois heróis maiores. Ao Cap. Abrantes coube, e fê-lo magnificamente, ser o estratega militar da tropa, e como tal foi o pai da unidade militar dentro do Esquadrão, ao Dr. Pimenta coube, e fê-lo exemplarmente, ser o estratega da condição física, psíquica e moral da tropa e como tal foi o pai da unidade familiar dentro do Esquadrão. Deve-se ainda ao Cap. Abrantes, como comandante das tropas em guerra, o nosso agradecimento pelo facto de ter a visão e o tacto militar de ter percebido os dotes superiores ímpares do Dr. Pimenta, dando a este toda a liberdade para exercer o seu munus de pacificador de almas entre a tropa. Só pela conjugação e perfeita complementaridade das qualidades e acção destes dois homens, ainda para mais coadjuvados por um grupo de oficiais valorosos, valentes e inteligentes, que reconheciam nestes dois superiores, qualidades humanas extra de comando, chefia e exemplo, que por sua vez também souberam transmitir e incutir, sem baixar a qualidade, à boa massa humana de sargentos e soldados, foi possível atingir um grau de unidade, coragem e prontidão muito além do comum e normalmente visto noutras Unidades militares.
O Dr. Pimenta foi para nós, certamente, tudo isso que nós sentimos que Ele foi e muito mais coisas boas, face ao teatro de guerra e isolamento prolongado no mato rodeado de perigo de morte por todos os lados, mas sobretudo Ele foi sempre o nosso sábio Irmão Mais Velho.


Fomos para a guerra moços cheios de ingenuidade individual, e voltámos da guerra homens feitos cheios de humanidade solidária. Fomos para a guerra armados de inocente mentalidade guerreira, voltámos da guerra armados de uma consciente e firme mentalidade de força de paz e trabalho. Fomos para a guerra sem vontade e à força, voltámos da guerra com uma enorme força de vontade. Fomos para a guerra fracos, submissos e mal preparados, voltámos da guerra mais fortes, mais sábios e lutadores vivos. Fomos para uma guerra suja como são todas as guerrilhas, fomos sempre apenas e só militares e voltámos limpos e de consciência tranquila. Tudo isso devemos á sorte de ter pertencido a uma Unidade Militar, chefiada por tais condutores e educadores de homens, sem imposições e violências de galões.
Só para ter conhecido e recebido formação de homens assim, foi uma honra enorme ter pertencido ao Esquadrão de Cavalaria 149. Eu tenho orgulho de ter sido furriel miliciano, combatente do Esquadrão de Cavalaria 149.



(x) - Lido no almoço de confraternização e homenagem ao Dr. João Alves Pimenta em Évora,13.10.2007 pelo autor,

Adolfo Pinto Contreiras
Furriel miliciano do Esq.149