domingo, 8 de maio de 2011

Dr. JOÃO ALVES PIMENTA, NOSSO TEN. MIL. MÉDICO

80º ANIVERSÁRIO

E o dia do merecido 80º aniversário em quase perfeito estado de saúde cumpriu-se no dia certo com a certidão de nascimento. Agora, após uma total dedicação a praticar o bem à volta da sua vida, certificado por quatrocentos amigos que o rodearam e cantaram os parabéns em conjunto, ligados por essa dádiva sua que espalhou sobre todos nós: fazer o bem e dar o melhor "até ao fim".

Nele, dar "até ao fim", significa dar tudo de sí sem esmorecimento, desistência ou abandono, sob que circunstância fôr. Foi o que fez connosco do Esq. Cav. 149, quando recusou a promoção ao posto imediato, para não nos "abandonar" e estar connosco "até ao fim" da comissão em Angola.

O Nosso Esquadrão 149 esteve representado por uma dezena de seus companheiros de guerra em Angola entre 1961-1963, e o advogado Ribeiro de Cavalho, que foi o mais jovem Alferes Miliciano do Esquadrão, e também o que abriu as portas da guerra num combate com feridos, em Seu nome pessoal e Nosso proferiu as seguintes palavras abaixo reproduzidas.



Meu Caro Dr. João Alves Pimenta

Encarregaram-me os Seus e meus Camaradas do Esquadrão de Cavalaria 149 de dizer hoje algumas palavras neste jantar de homenagem dos Seus 80 anos.

Através do livro que, em boa hora, a Sua Exma Esposa fez publicar, todos os Seus Amigos e admiradores que hoje aqui se encontram têm conhecimento da vida exemplar de um Homem que mais se preocupou com os outros do que consigo próprio, de um Homem com uma vida pública, cívica e privada a todos os títulos excepcional.

Para nós, que consigo privámos em penosas e difíceis condições durante mais de 2 anos, nunca constituiu surpresa que viria a ter, na vida civil, um percurso profissional e pessoal à altura das grandes qualidades que aprendemos a reconhecer-Lhe.

E, no entanto, quanto de riso, de espanto e incredulidade quando soubemos, no Ambriz, à volta de 20 de Julho de 1961, que o Médico que fora atribuído ao nosso Esquadrão estava a acabar a especialidade de Obstetrícia. “Ó diabo, isto vai ser complicado”, pensámos nós.

Mas não foi, como logo verificámos no dia 25 de Julho quando eu regressei com o meu pelotão da 1ª emboscada que o Esquadrão sofreu, trazendo 5 feridos, logo desveladamente assistidos pelo Dr. João Alves Pimenta.

Não vou falar-Vos das vezes sem conta em que alguns de nós se salvaram graças aos abenegados esforços e a inexcedível competência profissional do nosso Médico.

Que foi Médico, mas que foi igualmente Militar, intrépido debaixo de fogo, nunca recuando perante o perigo, antes arriscando a sua própria vida para socorrer os militares do Esquadrão atingidos em combate. De tal sorte que, com toda a justiça, foi condecorado com a Medalha de Prata de Serviços Distintos com palma.

Gostaria antes de salientar dois ou três outros aspectos da multifacetada personalidade e da humanidade do Dr. João Alves Pimenta.

Convém salientar que o Dr. João Alves Pimenta, para além de ter já concluído o seu Curso de Medicina e Cirurgia na Universidade de Coimbra, tinha mais cerca de 10 anos de idade que a maioria de nós (sem contar, obviamente, com o Capitão Rui Coelho Abrantes e os Sargentsos do Quadro), o que lhe dava uma experiência de vida que nós, miúdos de 20/21 anos, não tinhamos.

Daí que, instintivamente, todos nós, por uma razão ou outra, passassemos a breve trecho a procurar o seu conselho, o seu apoio, o seu ombro amigo e sempre atento para desabafar uma tristeza, uma saudade, um desgosto amoroso potenciados pela inultrapassável distância.

O Dr. João Alves Pimenta foi para nós, nesse atribulado período da nossa vida, o Pai, o conselheiro, o psicólogo e, principalmente, o AMIGO.

Todos nós, os do 149, temos uma história, um episódio, em que a figura principal é o Dr. João Alves Pimenta. A sua sobriedade, a sua disponibilidade para nos atender, a sua atenção aos pormenores de todos e cada um de nós, ficará para sempre no fundo dos nossos corações.

Como poderia eu esquecer que um dia, no Mucondo, o Dr. Pimenta me disse que me ia mandar a Luanda tratar dos dentes, de que eu felizmente não padecia e, perante o meu espanto, disse que já tinha assinado a guia de marcha e que eu visse no Hospital Militar de Luanda se tinha, ou não um dente cariado. Mas que não regressasse antes de oito dias. Só depois desses oito dias de “férias”, em que se apurou,como eu já sabia, que não tinha qualquer cárie, é que me apercebi que, de facto, já estava a ficar um bocado perturbado por longos meses no mato, do que o Dr. Pimenta se apercebeu e atempadamente acudiu.

Hoje fala-se muito de “stress pós-guerra”, de que na altura nunca ouviramos falar. Mas, e com isto termino, o Dr. João Alves Pimenta antecipou essa realidade, ao deixar escrito no seu livro “História do E.Cav. 149”, impresso ainda em Luanda, antes de regressarmos em 1963:

“A maneira como amparámos os militares, durante todo o período de permanência em Angola e a forma como se soube conhecê-los, actuando no momento oportuno com conselhos, ou com facilidades, permitiu que, em todas as circunstâncias, não tivessemos um só caso de psicose que fosse necessário evacuar para o Hospital Militar de Luanda.

A preocupação em recuperá-los fisicamente, logo que as circunstâncias o permitiram, deram e estão dando os seus frutos, como se pode constatar pelo razoável aspecto físico presente ... e cremos que, em Outubro, ao chegarem à Metrópole, com 27 meses de permanência em Angola, sempre na Zona de Intervenção Norte, poderão ingressar nos seus misteres, sem necessitarem de um período de adaptação”.

Resta-me, pois, em meu nome pessoal e em nome dos militares do Esquadrão de Cavalaria 149, agradeçer-Lhe, Dr. João Alves Pimenta, tudo quanto por nós fez, manifestar-Lhe a nossa fiel e incondicional amizade, apresentar-Lhe os nossos afectuosos parabéns e, com um grande abraço, desejar-Lhe uma longa e feliz vida.

Évora, 6 de Maio de 2011

(António Ribeiro de Carvalho

Ex- Alferes Miliciano do E.Cav. 149)

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