sábado, 5 de janeiro de 2013

TOMADA DE ZALA

A 6Ago61 fez-se a última arrancada para ocupação de Zala localidade com Posto Administrativo que foi atingida pelas 16 Horas.
O inimigo que se havia batido duramente até Quimazangue e nos fizera um morto e vários feridos, neste pequeno troço final quase não ofereceu resistencia e tinha abandonado a povoação com forte rasto de destruição do casario, como já se tornara habitual no inimigo.







A 7Ago61 o Esquadrão marchou em formatura geral até junto do Posto Administrativo para proceder ao hastear da bandeira portuguesa na presença do Chefe de Posto e de vários civis fazendeiros da região que nos acompanharam e nos serviram de guias pelo meandros e cruzamentos de picadas. 
Nesta cerimónia do hastear da bandeira o Comandante Abrantes, uma vez reconquistada a povoação, fez a entrega do Posto à entidade administrativa competente. 



Foi interessante verificar que, embora já destreinados e desligados dos exercícios de paradas e galas vistosas em aquartelamentos monumentais, os nossos Soldados marcharam garbosa e briosamente embora metidos nas suas fardas de combate já bastante suadas e gastas. 
Nesta parada não havia obrigação de fazer brilhar os amarelos nem a graxa das botas ou outra qualquer exigência para abrilhantar a cerimónia. Nem era necessária e o Comando preocupava-se muito pouco com simbolismos de parada e muito mais com simbolismos de coragem. 
O brilho militar forte estava na consciência do dever cumprido e reflectia-se nos olhos dos Soldados.
Foi uma parada num intervalo da guerra onde estavam presentes o sangue dos camaradas feridos e do morto recentes e o acto comemorava uma victória que significava o cabal cumprimento do dever perante o sangue já derramado sobre a picada até Zala.




Ainda na tarde de 7Ago61 continuaram as obras de improvisação de uma pista de aviação a partir de uma encosta de capinzal.
Com ferros, latas, catanas e algumas pás e enxadas existentes, todos se empenharam em capinar e alisar uma encosta de capim. Com esforço fez-se uma pista cheia de altos e buracos que na aterragem inaugural o Dornier mais parecia uma corça aos saltos e, não fora a perícia do piloto, certamente tinha-se virado às cambalhotas.
A alegria dos Soldados, ao verem o avião, um Dornier DO-27, finalmente parado e direito sobre as rodas, correram em bando felizes para o avião que trazia correio e víveres frescos.


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Ainda andava no ar o fumo e o intenso cheiro
da pólvora, após várias horas de tiroteio intenso
quando avistámos casas e num enorme e alto terreiro
acampámos para descanso do corpo,da alma e do imenso
medo e desgaste psíquico, provocado
durante tantas horas de fogo cruzado
que provocaram à nossa Tropa cinco feridos ligeiros
e várias baixas ao inimigo, a julgar pelos rastos vistos nos carreiros.
Contudo, na hora do dever cumprido e do descanso, ninguém se rala
com os feridos que estavam bem entregues ao Doutor e maqueiros
e, os restantes estavam felizes pela tomada de Zala.


Do livro "Esquadrão 149 - A Guerra e os Dias" de José Neves

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