segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

DESONESTIDADES HISTÓRICAS II (Cont.)


BATALHAS DA HISTÓRIA DE PORTUGAL, MAL CONTADAS (Cont.)
A CARTA

De : Adolfo Pinto Contreiras

Gorjões, Santa Bárbara de Nexe
8005-448 FARO
BI nº 1164250
Combatente furriel miliciano do Esq.Cav. 149
Ref. : APC/2006.03.22


Para : Academia Portuguesa de História
A/C : Prof.ª Doutora Manuela Mendonça



Exma. Prof.ª Doutora
Presidente da Academia Portuguesa de História,


Terminada a leitura do livro de sua coordenação vendido com o “Correio da Manhâ” intitulado “Guerra de África, Angola 1961-1974”, e após chegar ao fim do capítulo “Anexo, A Operação Viriato” deparei com um enigma gigante o qual é o seguinte:
Como conseguiu a Doutora fazer desaparecer um Batalhão (~600 homens) mais um Esquadrão reforçado ~300 homens) da operação Viriato?
É que na página 93 está dito escrito preto no branco que «a operação Viriato esteve a cargo do Esq. Cav. 149, do Bat. de Caç. 114 e do lendário Bat. Caç. 96» e depois remete para o capítulo ”Anexo” a descrição minuciosa. Não sei por que artes mágicas o Bat.114 e o Esq.149 desapareceram da operação sem deixar rasto, terão fujido? Terão caído prisioneiros? Terão sido engolidos pela águas do Lifune (114 em Anapasso) ou pelas águas do Uembia (149 próximo de Nambuangongo)? Terá a operação que tinha três pés perdido dois e ficou perneta ou terá o historiador ficado cegueta com os raios da FBP de Maçanita e o raios do inferno de Maneca Paca? Enfáticas conjecturas minhas que estive lá ao vivo ou enigmáticas prestidigitaduras de historiador?


O enigma continua em Quipedro «a primeira operação de combate com lançamento em pára-quedas». Compreende-se, se o Esq.149 desaparecera a caminho de Nambuangongo como o podia ter visto alguém em Quipedro? O Artur Agostinho ainda viu «umas tropas» acampadas quando, branco de medo, se dirigia do DO-27 de asa ferida para o acampamento dos páras, mas o historiador nada viu desta vez cegueta pelo brilho do raio da boina verde, a primeira.


Para dramatizar o enigma o historiador faz reaparecer o Bat.114 com a missão de progredir sobre o eixo Caxito-Nambuangongo e várias unidades; Bat.Caç.137, Comp. Art. 119, Comp. Caç. 66 e 67 mantidas em quadrícula.
Sobre
o eixo Ambriz-Zala-Nambuangongo progrediu o olho cego do coordenador e de todas as “Referências Bibliográficas”.

Feito desaparecer por prestidigitação de historiador o Esq.149 da operação Viriato também teria de ficar na sombra dos «soldados portugueses de eleição» o Cap. Rui Abrantes, o homem que à frente do 149:

1. Iniciou Viriato arrancando de Ambriz a 26Julho1961.
2. Fez o percurso Ambriz-Zala-Nambuangongo, 180 Kms, o mais longo e não o menos perigoso.
3. Nunca esteve acampado mais que uma noite até ao dia 1Ag1961.
4. A partir de 1Ag1961 com 110 kms percorridos e a 30 de Zala decidiu avançar noite e dia sem estacionamento, o que foi um sucesso de rapidez e baixas.
5. A 7Ag1961 hasteou com formatura e clarins a bandeira portuguesa no Posto Administrativo de Zala.

6. Na noite de 7Ag1961 queria arrancar para Nambuangongo, a 44Kms, e não o fez
por oposição dos subalternos dada a falta de munições.
7. Arrancou de Zala às 13,00H de 8Ag1961 e chegou a Nambuangongo às 9,00H do
dia 10Ag1961, após 20 Horas sem paragens e 44 quilómetros percorridos.
8. Foi o único comandante de Viriato a perceber após os primeiros dias a fraqueza do inimigo em poder de fogo e preparação militar, por isso argumentou com os subalternos em Zala que chegava a Nambuangongo com três (3) pelotões incluindo o pelotão blindado do Dragões adido ao Esq.
9. Tendo à sua disposição menos de metade do efectivo das outras unidades de Viriato nunca pediu reforços de pessoal ou material.
10. No dia seguinte à chegada a Nambuangongo arrancou para Quipedro por dois itinerários diferentes e no dia 13Ag1961, quando os Páras foram lançados, já estava no Lué a 6 Kms da povoação.
11. Depois de uma estadia de 20 dias em Quipedro rodeado de inimigo por todos os lados(os Páras estiveram activos 3 e 3 dias à espera de vôo para Luanda), 2 mortos e 3 feridos graves evacuados, foi enviado para desobstruir e cortar a linha de fuga do inimigo da Pedra Verde pelo eixo Quijoão-Dange(transposição)-Pedra Verde, operação "Esmeralda" .
12. Conseguiu fazer passar o Esq. sobre o rio Dange construindo, com paus cortados à mata, lianas, arame farpado e bidons velhos, uma jangada que transportou viaturas com 14 toneladas sem o mínimo acidente e nada se perder. Um episódio odissaico e um milagre da determinação e improviso do soldado portugues.
13. Transposto o Dange sobre jangada feita à mão a 18Set1961 estava na Pedra Verde protegendo o acampamento das tropas que lutavam no morro.
14. A 24Set1961 já estava desobstruindo o itinerário Balacende-Roça Maria-Fernanda-Quimanoxe e libertando as roças Lagos & Irmão e Maria Fernanda.
15. Nunca consentiu a “blindagem” das suas viaturas com tábuas e latas, dando uma mensagem de força e não de medo ao inimigo, deixando os movimentos livres aos soldados, jamais dando ao nosso acampamento o ar de um bairro de lata.
16. Soube incutir nas tropas um moral, um estilo, um estar, uma união e ousadia tão elevada que durou todo o tempo de comissão mesmo sob outro comandante.
17. E tudo isto apesar dos 4 mortos e 40 feridos entre os quais 6 irrecuperáveis como consta do louvor dado pelo General Comandante da Região após 2 meses e as operações acima referidas.

Este é o lado de Viriato que o historiador não conta assim como não conta a acção do Bat.Caç. 114 que tinha a seu cargo o percurso mais curto mas o mais defendido pelo inimigo, distorcendo completamente a História como conjugação de factos e acções concorrentes de que resulta o facto histórico.
Neste caso quiz-se, à maneira épica (homérica), pôr um herói armado de FBP a comandar a História de Viriato e mais uns quantos heróis conhecidos espalhados pelos 13 anos de guerra a comandar a História da guerra em Angola.
Repare-se
que Aquiles é primeiro um não-combatente por amuo e depois um combatente feroz por vingança sem nobreza, restando aos outros o verdadeiro trabalho heróico e a Ulisses a manhosice.

Compreende-se como livro divulgativo comercial distribuido pelo “Correio da Manhã” mas o historiador não deveria transigir com o rigor histórico.

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