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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

OBSERVAÇÕES SOBRE A GUERRA


1º. GUERRA E CARÁCTER
A guerra é o local de acção onde é posto em risco constante o bem mais precioso, a vida. Consequentemente é a envolvência humana que revela e coloca o homem, mais frontal e radicalmente, frente a frente consigo próprio e o seu carácter.


2º.
GUERRA E VENCEDORES
A guerra foi o estado permanente do homem primitivo pela sobrevivência, onde só havia vencedores. Na antiguidade a preocupação maior do homem era a sua preparação para a guerra, em defesa ou conquista de território, na qual os vencedores saíam heróis e os vencidos escravos.
Na nossa guerra colonial foram todos vencedores?

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

DA GUERRA II


ASPECTOS DA TOMADA DE NAMBUANGONGO

Segundo Tito Lívio, após a victória de Canas, Maárbal comandante da cavalaria, voltou-se para Aníbal e disse-lhe: "É indispensável que tires deste triunfo todas as consequências, que dele devem decorrer. Dentro de poucos dias deves jantar no Capitólio. Entendo que deves seguir quanto antes, eu te precederei com a cavalaria, de sorte que os Romanos venham a saber da minha chegada, antes de terem tido notícia da minha partida".
Aníbal recusou invocando tempo para meditar e reflectir acerca da marcha sobre Roma.
Maárbal retorquiu: "Sabes vencer, Aníbal, mas não sabes aproveitar-te da victória".

Em Julho-Agosto de 1961, em Angola, dos três Comandantes de forças militares empenhadas na tomada de Nambuangongo, apenas um teve a visão do general Maárbal e por coincidência também era o Comandante da coluna de cavalaria, o Esquadrão 149. Ainda antes da grande arrancada do Esquadrão do Ambriz, foi enviado, em exploração do terreno, um pelotão que foi atacado no Cavunga a 53 kms e regressou de noite, temeroso e aflito, com alguns feridos ligeiros. Imediatamente o Comandante, perante a perplexidade dos oficiais, deu ordem para o mesmo pelotão se preparar e avançar de novo para explorar a victória do Cavunga sem dar tempo à recomposição defensiva do inimigo. Este episódio deu discussão acesa entre Comandante e Alferes que atrazou o arranque definitivo do Esquadrão e foi motivo de duradoura discórdia entre ambos, embora o Alferes reconheça hoje a razão e justeza militar do sacrifício pedido, face ao sinal que tal acto arrojado representava quer para o inimigo quer para o interior da Unidade. Hoje o Alferes pode orgulhar-se de ter sido o primeiro a passar as portas da guerra, com feridos mas com sucesso e homens receosos mas confiantes combatentes já iniciados no fogo de combate.
Já houvera precedentes mas este foi o sinal claro da estratégia geral que estava na cabeça do Comandante e um aviso inequívoco de actuação futura dado a todos os oficiais, sargentos e praças sob seu comando. A surpresa era a táctica diária, explorar em força cada victória era a estratégia geral até ao objectivo final. Em Quimbunbe, após um segundo acampamento e analizada a actuação, forças e armamento do inimigo, o Comandante decide avançar de noite e dia sem parar, exactamente no sentido de chegar junto do inimigo antes que este soubesse da sua partida. E sobretudo estar sempre pronto a carregar sobre o inimigo e fazê-lo recuar mesmo que este infligisse feridos e mortos como aconteceu na batalha de Zala. Com tal rapidez e força de pressão contínua não foi possível ao inimigo colocar mais abatizes e alçapões na picada e de noite tornou-se inofensivo.
Constatado o sucesso prático do uso da estratégia definida , após um dia em Zala para hastear bandeira, com parada a rigor de Soldados sujos e sorridentes, rotos e ratos de guerra, no Posto Administrativo local, o Comandante quer impôr a marcha imediata para Nambuangongo, mas aqui a vóz dos subalternos foi mais forte devido aos feridos, à fadiga geral e sobretudo à falta de munições. O Comandante pensou arrancar com as condições existentes e uma força menor desde que pudesse contar com o pelotão adido de blindados ligeiros, mas este não aderiu e o Esquadrão ficou em Zala outro dia para ser reabastecido por via aérea através duma pista de terra capinada no momento. Na arrancada final de Zala para Nambuangongo manteve a mesma determinação de fazer a caminhada de noite e dia sem parar e foi confirmado o facto de que o inimigo estava impotente e sentia-se batido pois limitou-se a observar de longe a progressão sem intervir.
O Esquadrão 149 não foi o primeiro a jantar em Nambuangongo, tomou o pequeno almoço depois do jantar do Batalhão 96, mas também esta Unidade havia iniciado a operação dias antes e desobstruira um percurso mais curto. E foi notório e sentido pela tropa das duas Unidades em marcha sobre o objectivo final, que o Estado Maior da Operação Viriato se serviu da actuação fulgurante do Esquadrão 149, estimulando a competetividade para ser primeiro e obter os louros da conquista, as tropas mais próximas e assim atingir em tempo útil o objectivo militar que correspondia ao objectivo político da altura.

Por natureza própria ou por conhecimento e estudo, o Comandante Capitão Rui Abrantes, professor de táctica na Academia Militar, demonstrou na prática ter as qualidades e visão estratégica do grande Maárbal, pela lucidez em analizar as potencialidades próprias e do inimigo, pela argúcia, sagueza e capacidade estratégica, pelo comportamento exemplar na frente de combate, pelo respeito militar e humano quer frente aos seus homens quer perante o adversário, desde o primeiro dia conquistou a disposição e entrega total dos seus Soldados face a qualquer situação. E todos confiaram e corresponderam tão pronto, decidida e abnegadamente sob constante perigo de vida, que os regressados ilesos se sentem heróis vivos resgatados da companhia dos heróis feridos e mortos em combate, pela conduta, coragem e moral impostos, desde a primeira hora pelo comando do Esquadrão.


Publicado no blog apcgorjeios em 10.05.2007

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

DA GUERRA I

OS DOIS CONFLITOS


O instinto de defesa e sobrevivência criou e desenvolveu a faculdade guerreira, escola de guerra, e tal como as outras faculdades, coexiste no homem enquanto ser, sempre em duas frentes: a frente externa, física, que utiliza a violência bruta pela existência; a frente interna que usa a violência mental da razão sobre o instinto pela consciência. Assim sendo a guerra não é mais que o eclodir violento de um conflito travado entre o turbilhão de condições exteriores impostos à existência e a forte corrente de pensamento e vontades que desaguam na consciência.

Na existência do homem, em qualquer conflito coexistem sempre, interagindo entre elas, duas guerras em simultâneo: a física e a metafísica. Os livros que contam a história mais remota dos homens são verdadeiros relatos de guerras contínuas entre povos.
A própria Bíblia, mal Deus havia criado o mundo, logo relata os conflitos de Adão e Eva que continuam com Abel e Caím e por aí fora com David e Golias, Moisés e os egípcios e assim sucessivamente sem parar. Mas, como logo interpretam e explicam os teólogos, tais crimes e castigos são o mal menor necessárioo para salvar, exaltar e devolver o bem maior para a salvação humana. Até Deus, parece impotente, e é levado a dirimir guerras exteriores violentas com base em raciocínios de razões morais pesadas entre bem e mal.

Temos o caso da Ilíada que descreve a violenta e feroz Guerra de Tróia durante apenas dez dias de violência bruta, e pela amostra podemos supor o que foi tal guerra que durou vinte anos naquela ferocidade implacável. Também aqui, face ao impasse dos combates no campo de batalha apesar dos concílios e apoios dos deuses, mais uma vez foi através do conflito no interior do pensamento do homem envolvido nela, que se encontrou a solução para o desfecho da guerra: inventando a artimanha da imagem de um deus através da figura do Cavalo de Tróia que levava no bojo os mais valentes guerreiros gregos, o que permitiu o massacre final dos troianos e a destruição definitiva da Cidade.
Contudo, mais curioso e paradoxal ainda é que, tal livro de relatos de violência animalesca, foi mais tarde utilizado, como livro único para educação dos gregos, e com tal resultado que foi pai criador da civilização-mãe do maior império cultural existente que se tornou farol cultural do Ocidente, a caminho de farol cultural do mundo, e culturalmente incontornável.

Temos também, o livro de Sun Tzu que ensina como se deve utilizar a violência extrema para educar e fazer bons guerreiros e conta histórias de batalhas onde a violência é sempre implacável. Mas também este Mestre da Arte da Guerra nos ensina que prioritáriamente se deve pensar a estratégia e as tácticas dos exércitos em campanha e em combate e afirma que o melhor da arte de guerra consiste em: "atacar os planos do inimigo" e que "vencer o exército adversário sem o combater é o apogeu da arte". Extraordinário precursor da resolução vencedora pela prevenção de não guerra através da racionalização astuciosa do conflito interno.

Temos ainda, o livro de Tucídides sobe a Guerra do Peleponeso que relata outras batalhas igualmente ferozes e de violência sanguinária inacreditável à luz das regras e condição militar dos dias de hoje. E, tal como o autor afirma convicto, a causa fundamental da guerra foi: "O crescimento do poderio de Atenas e o alarme que provocou em Esparta tornaram a guerra inevitável". A Esparta meteu-lhe medo a grandeza e força de Atenas e esta subestimou o valor e força mental que uma humilhação acrescentava ao lendário valor militar espartano. Outra vez, por detrás do conflito de armas na mão, está um conflito mal resolvido no interior do pensamento das élites das duas Cidades e que levou à derrocada de ambas.
De assinalar, neste caso, o facto deste conflito, que sendo travado pela democracia ateniense onde imperava a mais profícua discussão público-filosófica racionalista sobre todos os temas do conhecimento, não se tenha resolvido bem o conflito pela racional descoberta da causa maior e primcipal que estava subjacente no desencadear das hostilidades.

Tivemos recentemente a II Grande Guerra que, além de utilizar a violência de guerra usual contra homens e bens, inventou e utilizou fábricas industriais adequadas para produzir morte em cadeia tecnológica. Quando se estudam e buscam as causas de tão brutal inumanidade, lá estão na primeira linha uma guerra interior de vontades de desforra e vingança, outra de grandeza e poder, acima dos homens, para criar uma utopia universal de índole racista. En suma, outro conflito de guerra brutal inumana, desencadeada pela má resolução racional de um conflito desenvolvido no interior da consciência.

E temos presentemente as "Guerras Santas" dos islamitas ortodoxos que usam de igual violência indiscriminada sobre militares ou civis, tal qual as antigas guerras de devastação total. Sem meios, por enquanto, para desenvolverem uma guerra de destruição maçiça dos "inimigos", promovem uma guerra de guerrilha a nível universal fundamentados em ordens do céu, divinas. Tal como as causas, que geraram e deram as guerras bíblicas, estas dos islamitas são também um desígnio de Deus, dizem, para justificação de suas acções. Novamente um conflito do pensamento entre os homens ainda não resolvido, que atiram as culpas da guerra para cima das costas largas de Deus, homens esses que sendo crentes ferverosos desse Deus todo poderoso, não acreditam que Ele possa resolver a contenda a seu favor sem recurso à brutalidade de destruir parte da humanidade.

E nós, portugueses, tivemos e sofremos a nossa Guerra Colonial em África, igualmente pela má resolução de um conflito mantido confidencial durante anos como tabú indiscutível, no interior do pensamento da élite governamental, tornado pensamento oficial. Milhares de jovens mortos, milhares deficientes físicos e mentais, são resultado da barbaridade da guerra inútil, para nada.
Impedida a discussão pública da guerra, deixada ao livre arbítrio exclusivo de uma personalidade de visão puramente heróica da Pátria, à maneira rural antiga ultrapassada, a guerra sob solução militar cada vez mais opaca e derrota cada vez mais à vista, acabou por gerar um conflito interno racional com vista a resolver o conflito externo violento.
Foi necessário recorrer ao uso de violência a favor da paz que: restabeleceu a paz exterior e promoveu a democracia internamente, isto é, resolveu conflitos de existência e de consciência que impediam os portugueses de acompanharem o mundo da frente. Mas, porventura, pensais que terminou a incessante vontade do homem aventurar-se no desconhecido e gerar continuamente os dois conflitos?