quarta-feira, 19 de junho de 2013

GRANDE ARRANCADA, NAMBUAMGONGO II

A PRIMEIRA VICTÓRIA

Em 2011, 50 anos após a tomada de Nambuangongo em 1961, o Cor. Rui Abrantes concedeu ao Fur. Mil. do Esq. 149 Adolfo Contreiras uma entrevista sobre a Operação Viriato relativa à reocupação daquela povoação considerada pelos rebeldes da UPA como a Capital do Estado Livre do Congo Angolano.
O Cor. Rui Abrantes recorda como o então Cap. Comandante do Esq. Cav.149 ainda em Lisboa, tendo ouvido falar da importância militar e política da tomada de Nambuangongo, pensou no assunto e desembarcou em Luanda com vontade e decidido a participar nessa missão difícil e arriscada.  
Enviado o Esq. para o Caxito onde receberia missão do Comando do Sector 3 sediado na Fazenda Tentativa, no mesmo dia de chegada recebeu ordem de montar uma emboscada nessa noite a uma suposta descida sobre o Comando do Sector 3, e em direcção a Luanda, de milhares de combatentes da UPA que na véspera haviam atacado em massa o Bat.114 na ponte de Anapasso sobre o Rio Lifune fazendo alguns mortos e feridos e infundindo respeito.
A demonstração de capacidade de prontidão do Esq. 149 e a temeridade de colocar-se na frente de milhares de tropas inimigas e esperar de mão firme uma noite inteira deitados de arma apontada numa clareira da mata prontos a enfrentar tal coluna humana inimiga, foi de uma coragem e bravura invulgar. De salientar que os Soldados do Esq.149 tinham desembarcado havia dias e naquela altura ainda não tinham disparado um tiro na guerra. O Cap. Abrantes, ele próprio, esteve à frente e ao Comando das Tropas emboscadas.
É certo que o inimigo não compareceu como indicavam as informações recolhidas pelo Estado Maior do Comando do Sector 3, mas também não se sabe se não foi devido, precisamente, à movimentação rápida e à noite das nossas Tropas decididas a enfrentá-los, que o inimigo temeroso evitou o confronto. De qualquer modo o pessoal do Comando do Sector 3 instalado na Tentativa ficou descansado e pode dedicar-se sossegado à sua tarefa operacional de planear as missões das tropas na ZIN, Zona de Intervenção Norte.
No dia seguinte o Cap. Abrantes recebe a tão esperada e desejada missão de desobstruir o Caminho até Zala e se possível atingir Nambuangongo.
O Comandante Cap. Rui Coelho Abrantes, professor de táctica na Academia Militar, tinha obtido a sua primeira victória na guerra. 



:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

Entrincheirados atrás dos capacetes de aço,
estendidos ao longo do cume da colina,
perscrutando a noite e o silêncio que retina
no corpo de alto a baixo,
o peito colado à terra, senti-a estremecer,
(ou seria o coração aos saltos a bater?)
do medo que faiscava no espaço
que ia da cabeça dos Soldados a Anapasso
onde se dera terrível combate frente-a-frente,
entre espingardas tiro-a-tiro
e canhangulos e catanas braço-a-braço,

................................................................................................

aguardávamos irrompesse uma mole de Gungunhamas
armados de FBP, canhangulos, paus e catanas.
Somente se ouvia o ruido do silêncio cavo
da floresta, ou o pisar de algum bicho bravo.
O pensamento, denso como bala, reflexivo como diamantes
alterava-se, imprevisível, como corsa perseguida
aos saltos, como quem luta pela vida e a morte enxota.
Assim tensos, à espera da nossa terrível e temida
Aljubarrota,
passaram anos em instantes.

;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;

Excertos do poema "Baptismo" do livro "Esquadrão 149 -A Guerra e os Dias" de José Neves.

Sem comentários:

Enviar um comentário