terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

MEU ALFERES, EU VOU MAS SE NÃO VOLTAR ADEUS


Foi mais ou menos assim que terminou a nossa conversa acerca da ordem que o meu Comandante Alf. Mil. Ribeiro me acabara de dar.
Ele tinha vindo procurar-me para me dizer que tinha de ir integrado na coluna que partia na madrugada do dia seguinte para o Ambriz a cerca de 250 Kms de Quipedro onde estávamos acampados a título de descanso. Tinhamos de percorrer, no sentido inverso, todo o caminho que havíamos feito na caminhada para a tomada e ocupação de Zala, Nanbuangongo e Quipedro a partir de Ambriz.
Para fazer esse percurso todo tinham sido necessários cerca de trezentos homens e levámos mais de vinte dias e vinte noites mas agora pediam-nos que fossemos ao Ambriz apenas com um Pelotão reforçado e davam-nos um dia para chegar lá.
O caso metia medo de tremer e eu contestei argumentando que tinha chegado de Nambuangongo na véspera de uma acção de reabastecimento e que agora era a vez de outra Secção. Retorquiu que não havia outra Secção pois que as outras Secções tinham várias baixas médicas, estavam muito desfalcadas e que só a minha estava em condições logo, tinha de ser a mina Secção e assim ficou decidido.
Quando comuniquei o caso aos Soldados da minha Secção, claro, houve a mesma contestação e argumentação que eu já tivera com o meu Comandante de Pelotão Alf. Ribeiro. Um dos meus Homens por fim disse-me: Meu Furriel eu vou mas se não voltar digo adeus a todos.
Fui de seguida dar conhecimento do acordo da Secção mas repeti-lhe o que o Soldado me havia respondido.

Felizmente, apesar da rápida ida tal como previsto e da atribulada e perigosa Longa Viagem de volta todos regressámos vivos, embora exaustos, de uma Longa Viagem de nove dias fazendo escolta a uma coluna de mais de cinquenta viaturas militares e civis carregadas de materiais militares e mantimentos. Desses perigos, quando estávamos na idade dos vintes e o perigo era audácia, todos passámos incólumes os que não tombaram no combate. 
Contudo nós, sobreviventes da guerra, não temos meios nem poder de sobreviver ao ataque do tempo que tudo torna decadente, desfaz e engole. 
Hoje foi o teu dia de Adeus, cumpriste o teu caminho e o teu dever durante a caminhada.
É teu o meu Louvor e minha a Saudade.

.................................................................................
Ainda o Sol não se tinha destapado
iniciámos a longa viagem de ida
e volta que duplicava a marcha feita
desde Viriato. e mal a gente se ajeita
na viatura já estávamos na descida
para o Lué onde o perigo espreita
sempre, ver correr sangue derramado.
..................................................................................
Éramos uma pequena coluna constituída
por meia dúzia de viaturas ligeiras
o que permitia velozes carreiras
com a coluna sempre à vista e unida.
E assim foi toda a nossa nova corrida
de Viriato, agora ao contrário
no percurso: da chegada para a abalada,
em homens: de trezentos para trinta,
em demoras: de vinte dias para vinte horas
sem paragens, sem descanso nem horário
para comer ou dormir e chegar de madrugada
à Vila do Ambriz e aí, saudavelmente, sinta 
o cheiro do mar, do café e sobretudo de senhoras
brancas, mulatas, cabritas ou pretas,
bonitas, feias, coxas, zarolhas, sérias ou putas
que nos apelavam a outras irresistíveis lutas
corpo a corpo, mais humanas e menos punhetas.
.....................................................................................
Do poema "A Longa Viagem, Ida" do livro de José Neves "Esquadrão 149, A guerra e os DIas"

1 comentário:

  1. boa tarde, fiz parte do 1º.comando operacional comandado por marafusta barreiros sediado em Carmonal Lucala e Salazar de 1961 a1963,será que são conhecidos alguns militares desse comando que eu muito gostava de trocar mensagens Henrique
    Teixeira Mota 1º.cabo radiotelegrafista n0.1110 (Ligado ao Hoquei em Patins meu email hmota@oninet.pt ou facebook motahenrique, obrigado pelo favor

    ResponderEliminar