António Barreto, velha cassandra, já previu:
que no Algarve a única coisa prestável era o Supermercado Apolónia,
que Sócrates era um para-fascista ao impor a lei contra o fumo em locais fechados,
que o computador "Magalhães" era uma desgraça para as criancinhas,
que Portugal estava em risco de desaparecer,
e foi, conjuntamente com todos os letrados que saltaram do país por causa da guerra colonial e se exilaram na Europa, responsável pela imposição de um pensamento dominante contra quem fez a dita guerra. Nesse pensamento dominante valor e coragem estava toda do lado de quem se recusara combater: o único perfil bastante para ser herói era a heroicidade de recusar a guerra. Se para muitos ou poucos, safar-se da guerra tratou-se ou não mais de um caso de medo que de heroicidade, foi sempre um tabu nunca discutido. E o medo, contudo e sobretudo o medo de levar um tiro no meio do mato sem saber donde veio, mete muito medo a muito herói.
Claro, para ilustrados bem-nascidos e já politicamente educados, definidos e integrados com apoios, era fácil sobreviver como exilado bem sucedido e até lhes amealhava a aura de lutadores anti-fascistas, vivendo mais ou menos regaladamente. O vilão bruto e colaboracionista era o humilde e rude analfabeto das vilas e aldeias remotas que, sem hipótese de fuga, acabavam com os costados todos no mato cercados de guerra por todos os lados. Tal pensamento dominante, foi responsável até há pouco tempo, pelo sentimento de culpa que os ex-combatentes sentiam ao ponto de evitarem falar da guerra por vergonha.
É um sentimento perverso provocando uma sensação estranha de total indiferença e dó de alma, para quem observou atento a este evoluir oportunista ao sabor do sentimento geral gerado pelo olhar desfasado do tempo real. À medida que os factos vão passando à História as cassandras ilustres do tempo real vão, inexorável e paulatinamente, sendo desmascaradas.
Para mim, ver António Barreto fazer agora o elogio dos ex-combatentes da guerra colonial, é um dó de alma tão amargo e doloroso como ver ex-combatentes, toda a vida esquecidos e humilhados, desfilarem à civil em parada militar, escondendo mazelas, raivas e catarzes entranhadas nas profundezas do corpo, em pose e passo de marcha militar pretenciosamente garboso, sob a velha boina identificadora de combatentes guerreiros convictos.
que no Algarve a única coisa prestável era o Supermercado Apolónia,
que Sócrates era um para-fascista ao impor a lei contra o fumo em locais fechados,
que o computador "Magalhães" era uma desgraça para as criancinhas,
que Portugal estava em risco de desaparecer,
e foi, conjuntamente com todos os letrados que saltaram do país por causa da guerra colonial e se exilaram na Europa, responsável pela imposição de um pensamento dominante contra quem fez a dita guerra. Nesse pensamento dominante valor e coragem estava toda do lado de quem se recusara combater: o único perfil bastante para ser herói era a heroicidade de recusar a guerra. Se para muitos ou poucos, safar-se da guerra tratou-se ou não mais de um caso de medo que de heroicidade, foi sempre um tabu nunca discutido. E o medo, contudo e sobretudo o medo de levar um tiro no meio do mato sem saber donde veio, mete muito medo a muito herói.
Claro, para ilustrados bem-nascidos e já politicamente educados, definidos e integrados com apoios, era fácil sobreviver como exilado bem sucedido e até lhes amealhava a aura de lutadores anti-fascistas, vivendo mais ou menos regaladamente. O vilão bruto e colaboracionista era o humilde e rude analfabeto das vilas e aldeias remotas que, sem hipótese de fuga, acabavam com os costados todos no mato cercados de guerra por todos os lados. Tal pensamento dominante, foi responsável até há pouco tempo, pelo sentimento de culpa que os ex-combatentes sentiam ao ponto de evitarem falar da guerra por vergonha.
É um sentimento perverso provocando uma sensação estranha de total indiferença e dó de alma, para quem observou atento a este evoluir oportunista ao sabor do sentimento geral gerado pelo olhar desfasado do tempo real. À medida que os factos vão passando à História as cassandras ilustres do tempo real vão, inexorável e paulatinamente, sendo desmascaradas.
Para mim, ver António Barreto fazer agora o elogio dos ex-combatentes da guerra colonial, é um dó de alma tão amargo e doloroso como ver ex-combatentes, toda a vida esquecidos e humilhados, desfilarem à civil em parada militar, escondendo mazelas, raivas e catarzes entranhadas nas profundezas do corpo, em pose e passo de marcha militar pretenciosamente garboso, sob a velha boina identificadora de combatentes guerreiros convictos.
Sem comentários:
Enviar um comentário