terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

DESONESTIDADES HISTÓRICAS III (CONT.)

HISTÓRIAS MAL CONTADAS II

Após arrancada próximo de Ambriz

Continuemos com a análise do ridículo depoimento do grande repórter de guerra Artur Agostinho relatado no livro da Temas e Debates "A guerra de África, 1961 - 1974", de José Freire Antunes, incluido no Volume 1 com o título enganoso de "Artur Agostinho, Relato da Frente". Título enganoso porque totalmente às avessas no caso da reportagem da tomada de Nambuangongo que vamos analizar agora aqui.

Ataque na zona do Cavunga

Depois da afirmação certeira de que os repórteres da TV (Neves da Costa e Serras Fernandes), seguiam numa coluna militar (que era o Esq. Cav. 149, comandada pelo Cap. de Cav.ª Rui Abrantes, que desconhece), AA diz esta fanfarronice descomunal:
"Eu estava a organizar-me no sentido de tentar cobrir Nambuangongo, porque era importante, mas não sabia bem como é que havia de fazer a reportagem. Se eu fosse com a coluna nunca mais lá chegava, e não sabia quando é que transmitia a reportagem para Portugal. Então «bolei» esta ideia do avião: ir num Dornier que era um avião pequeno".

Neves da Costa (de chapeu) incorporado na coluna

Repare-se neste subterfúgio descritivo da situação para fugir à óbvia necessidade de ir ter com as tropas da frente no terreno se se quizesse mesmo fazer uma reportagem séria do que se passava próximo e na hora da tomada de Nambuangongo. Diz, com a ligeireza de quem não pensa um segundo nem tem dos factos o respeito que merecem, que ele bem queria ir fazer a reportagem mas com a coluna não, porque desse modo nunca mais lá chegava, então foi dar uma volta de avião sobre as tropas do Cor. Maçanita.

Assinalados: 1- Sarg. Sousa horas depois motro na batalha de Zala
2 - Sarg. Mota dias depois morto em Quipedro

Sublinhe-se que naquele momento estavam lutando nas picadas cerca de 1300 homens, na linha da frente, em três colunas militares para chegar a Nambuangongo e mais outros tantos que faziam a ocupação do terreno conquistado, e o AA, qual Aquiles indomável, pelas declarações prestadas, faz crer que pretendia lá estar antes das tropas ocuparem a povoação. Mas como diabo queria o grande repórter lá chegar quando cerca de 800 homens armados se arrastavam à velovidade de 1-2 Kms/hora pelas picadas do morro acima e quando cerca de 500 deles até já haviam desistido de avançar até ao objectivo final, face às dificuldades e perigos encontradas pelo caminho?

Evacuação de ferido na zona de Cavunga

A mensagem que o grande repórter quer fazer passar é dar a ideia de uma vontade indómita, heróica, de querer estar em Nambuangongo mas não havia condições para poder satisfazer a sua coragem imbatível. E deste modo não teve outra solução senão ir de avião, dar uma volta sobre as tropas do Bat. 96, falar via rádio com o Maçanita uns minutos e voltar imediatamente para o consolo do hotel em Luanda. E, na visita aérea, dado ter-se apercebido do despique entre as colunas militares para chegar primeiro, fazer uma reportagem ao estilo relato de bola Sportig-Benfica que disse, "foi realmente uma pedrada no charco".

Ferido ligeiro de tiro de canhangulo

Até esta fafarronice profissional menor da pedrada no charco é de um pretenciosismo incabível num corpo humano: no charco da guerra tal como se desenrolava, ou no estilo das reportagens até aí feitas? Nessa altura as reportagens feitas por enviados especiais, eram talvez ainda inexistentes, pelo que tudo indica e mais ainda pelo tom geral do depoimento, que AA entende que deu uma pedrada no charco que era a condução da guerra na altura. De grande repórter, AA após uma breve olhadela pela situação militar em Luanda e do alto do seu pequeno avião sobre o mato, e de repente, toma-se como um grande cabo de guerra.

Nambuangongo

AA bem tenta desvalorizar a acção dos militares e as dificuldades da guerra numa tentativa de mascarar o seu horror aos perigo das balas. Não foi à frente de batalha pela picada e fez o que fizeram inúmeros outros, até militares com patente: foi e veio cómoda e rápidamente de avião sem correr perigo algum. E do trabalho que tinha de fazer "porque era importante" como diz e lhe teria sido encomendado especialmente, acabou por fazer um trabalhozinho tal que desapareceu completamente da memória da guerra colonial.

Igreja de Nambuangongo

Andar integrado numa culuna militar implicava fazer a vida de militar em operações: comer ração de combate continuamente, dormir no chão embrulhado numa manta, lavar-se ou tomar banho só na travessia a vau dos rios, correr perigo de morte a toda a hora todos os dias e noites, e para isso é necessário coragem e muito sacrfício pessoal. Não é para todos e muito menos para habituados e já instalados na notoriedade assente no trabalho confortável das redacções e campos de futebol.
A displicência com que AA relata acontecimentos tão graves como esta guerra onde a melhor juventude portuguesa lutava e morria, é claro sintoma de que a sua participação e conduta nela foi de passagem, medrosa e de importãncia nula.

Igreja de Nambuangongo com bandeira içada

(Continua)

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