Jubilado
O terminar da sobrevivência
Deixou pensamento devoluto,
Por força da pesada absência.
Interrogo-me, agora já não luto?
Não tenho de criar netos,
Não há horários a cumprir,
Sou velho para novos afetos,
Que faço para preservar sorrir?
Invento nova e serena ocupação!
Sirvo-me dos livros que li uma vez,
Ocupo o tempo. Que satisfação!
Desacelero a ordem de invalidez.
Não tenho para poeta talento,
Esforço-me em ser retratista.
Observo à minha volta, atento:
- Faço rimas a imitar aguarelista.
E assim me subtraí
A um vazio demolidor.
É o meu ego que ri!
Das rimas, que importa o valor?
Victor Ramos
Lisboa, 10 – 6 – 2022