1. OEIRAS 21 DE AGOSTO 2024
Estiveram presentes:
D. Lourdes Abrantes, esposa do Cap. Abrantes e familiares
Os Snrs. Carlos Gaspar e o porta estandarte do Núcleo de Ex-Combatentes de Oeiras
O Ex-Combatente em Moçambique Domingos Ferreira
2. O Ex-Furriel Mil. Adolfo Contreiras leu, a propósito, o seguinte texto publicado em 10 de maio de 2007 no seu Blog APCGORJEIOS:
ASPECTOS DA TOMADA DE NAMBUANGONGO
Segundo
Tito Lívio, após a vitória de Canas, Maárbal comandante da
cavalaria, voltou-se para Aníbal e disse-lhe: "É indispensável
que tires deste triunfo todas as consequências, que dele devem
decorrer. Dentro de poucos dias deves jantar no Capitólio. Entendo
que deves seguir quanto antes, eu te precederei com a cavalaria, de
sorte que os Romanos venham a saber da minha chegada, antes de terem
tido notícia da minha partida".
Aníbal recusou invocando
tempo para meditar e refletir acerca da marcha sobre Roma.
Maárbal
retorquiu: "Sabes vencer, Aníbal, mas não sabes aproveitar-te
da vitória".
Em Julho-Agosto de 1961, em Angola, dos
três Comandantes de forças militares empenhadas na tomada de
Nambuangongo, apenas um teve a visão do general Maárbal e por
coincidência também era o Comandante da coluna de cavalaria, o
Esquadrão 149.
Ainda antes da grande arrancada do Esquadrão do Ambriz, foi enviado, em exploração do terreno, um pelotão que foi atacado no Cavunga a 53 kms e regressou de noite, temeroso e aflito, com alguns feridos ligeiros. Imediatamente, o Comandante, perante a perplexidade dos oficiais deu ordem para o mesmo pelotão se preparar e avançar de novo para explorar a vitória do Cavunga sem dar tempo à recomposição defensiva do inimigo.
Este episódio deu discussão acesa entre Comandante e Alferes que atrasou horas o arranque do Esquadrão e foi motivo de duradoura discórdia entre ambos, embora o Alferes reconheça hoje a razão e justeza militar do sacrifício pedido, face ao sinal que tal ato arrojado representava quer para o inimigo quer para o interior da Unidade. Hoje o Alferes pode orgulhar-se de ter sido o primeiro a passar as portas da guerra, com feridos mas com sucesso e homens receosos mas confiantes combatentes já iniciados no fogo de combate.
Já houvera precedentes mas este foi o sinal claro da estratégia geral que estava na cabeça do Comandante e um aviso inequívoco de atuação futura dado a todos os oficiais, sargentos e praças sob seu comando. A surpresa era a tática diária, explorar em força cada vitória era a estratégia geral até ao objetivo final. Em Quimbunbe, após um segundo acampamento e analisada a atuação, forças e armamento do inimigo, o Comandante decide avançar de noite e dia sem parar, exatamente no sentido de chegar junto do inimigo antes que este soubesse da sua partida. E sobretudo estar sempre pronto a carregar sobre o inimigo e fazê-lo recuar mesmo que este infligisse feridos e mortos como aconteceu na batalha de Zala. Com tal rapidez e força de pressão contínua não foi possível ao inimigo colocar mais abatizes e alçapões na picada e de noite tornou-se inofensivo.
Constatado o sucesso prático do uso da estratégia definida, após um dia em Zala para hastear bandeira, com parada a rigor de Soldados sujos e sorridentes, rotos e ratos de guerra, no Posto Administrativo local, o Comandante quer impor a marcha imediata para Nambuangongo, mas aqui a voz dos subalternos foi mais forte devido aos feridos, à fadiga geral e sobretudo à falta de munições. O Comandante pensou arrancar com as condições existentes e uma força menor desde que pudesse contar com o pelotão adido de blindados ligeiros dos Dragões de Luanda, mas este não aderiu e o Esquadrão ficou em Zala outro dia para ser reabastecido por via aérea através duma pista de terra capinada no momento. Na arrancada final de Zala para Nambuangongo manteve a mesma determinação de fazer a caminhada de noite e dia sem parar e foi confirmado o facto de que o inimigo estava impotente e sentia-se batido pois limitou-se a observar de longe a nossa progressão sem intervir.
O
Esquadrão 149 não foi o primeiro a jantar em Nambuangongo, tomou o
pequeno almoço depois do jantar do Batalhão 96, mas, também, esta
Unidade havia iniciado a operação dias antes e desobstruíra
um percurso mais curto. E foi notório e sentido pela tropa das duas
Unidades em marcha sobre o objetivo final, que o Estado Maior da
Operação Viriato se serviu da atuação fulgurante do Esquadrão
149, estimulando a competitividade
para ser primeiro e obter os louros da conquista, às
tropas mais próximas e assim atingir em tempo útil o objetivo
militar que correspondia ao objetivo político da altura*.
Por
natureza própria ou por conhecimento e estudo, o Comandante Capitão
Rui Abrantes, professor de tática
na Academia Militar, demonstrou na prática ter as qualidades e visão
estratégica do grande Maárbal, pela lucidez em analisar
as potencialidades próprias e do inimigo, pela argúcia, sagueza e
capacidade estratégica, pelo comportamento exemplar na frente de
combate, pelo respeito militar e humano quer frente aos seus homens
quer perante o adversário, desde o primeiro dia conquistou a
disposição e entrega total dos seus Soldados face a qualquer
situação. E todos confiaram e corresponderam tão pronto, decidida
e abnegadamente sob constante perigo de vida, que os regressados
ilesos se sentem heróis vivos resgatados da companhia dos heróis
feridos e mortos em combate, pela conduta, coragem e moral impostos,
desde a primeira hora pelo comando do Esquadrão.
Comando esse, especial e militarmente protagonizado exemplarmente por esse grande Cabo Militar que foi o Cap. Cav. Rui Coelho Abrantes, hoje, e aqui, homenageado pelos militares seus subordinados ainda vivos.
A ele, o nosso muito obrigado, com saudade.
* Naqueles dias debatia-se na ONU a questão de Angola e era urgente um argumento forte como o de total libertação do norte de Angola do domínio da UPA.
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