Faz hoje 90 anos de vida o nosso Ten. Mil. Médico Dr. João Alves Pimenta figura ímpar do Esquadrão de Cavalaria 149 em Angola entre 1961 - 1963.
Figura ímpar que reconhecemos primeiro na sua qualidade de Oficial militar médico na guerra e depois na sua conduta de vida ao longo destes anos todos na sua actividade civil como cidadão, médico, pedagogo e amigo exemplar em todos os sentidos do que há de melhor nas qualidades humanas.
É ver o discurso acima proferido em Lanceiros 2 no nosso primeiro encontro vinte e cinco anos após o desembarque em Lisboa em 10 de Outubro de 1963; interpretá-lo hoje à luz da controvérsia actual acerca da ética e heroicidade entre os combatentes e os exilistas; entre os que lutaram cá dentro de armas na mão e os lutadores de caneta ou palavras, lá fora; entre os que deram o "salto" para fugir à guerra e à miséria e os que "saltaram" por convicção política ou outra causa menos nobre.
Ver como o Dr. Pimenta, que viveu no centro de permanente perigo sempre entre os Soldados, tratando-os, confortando-os e aconselhando-os ora como médico, ora como psiquiatra, ora como pai ou mesmo uma grande "Mãe Preta" tratando todos igual e imparcialmente, sentiu o seu dever e o nosso como um forte contributo para o fortalecimento da amizade, unidade e entreajuda comum como suporte para enfrentar não só os perigos iminentes da guerra como os futuros ao longo da vida civil de cada um; Ele conviveu junto e sentiu a grandeza do nosso contributo com mortes e sangue e ensina-nos que devemos orgulhar-nos disso e não o contrário pois cumpríamos a nossa missão disciplinadamente, não obstante obrigados; Ele também sabia que aos Soldados aldeãos pobres e analfabetos não restava outra alternativa pois até consigo próprio isso tinha acontecido; sendo ele mais velho que nós oito anos todos os médicos anteriores ao seu curso se escusaram, "saltaram" ou arranjaram pretextos e poderosas "cunhas" para fugirem à mobilização.
E o exemplo ímpar de, onde quer que estivesse, estar sempre pronto a socorrer alguém aflito na sanzala que lhe pedisse socorro; no Caxito substituiu o Delegado médico que falecera e instalou um consultório onde dava consulta diária a mais de duzentos habitantes locais; vária vezes, pela noite adiantada, foi só com o condutor do jipe e um maqueiro assistir a mulheres nativas da sanzala para as salvar e aos filhos de partos complicados; o mesmo aconteceu como militar onde, logo que havia feridos, logo o Dr. Pimenta aparecia a correr com a sua sacola de pronto-socorros e lancetas pronto a operar.
Quando era estudante em Lisboa tive um Professor Engº. da EDP de quem um colega meu dizia: - Este homem devia ser pago e bem apenas para ensinar e formar homens e não fazer mais nada -;
Pois o Dr. Pimenta que também tive o privilégio de conhecer em circunstâncias de formação de carácter e rectidão humana, é um desses homens raros a quem devemos admiração e um respeito sem limites.
Sem comentários:
Enviar um comentário