quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

OPERAÇÃO NAMBUANGONGO - EFEITOS II



CAP. CAVª. RUI COELHO ABRANTES, COMANDANTE ESQ. 149

Outra das três forças militares empenhadas na operação "Viriato" convergentes na tomada e ocupação de Nambuangongo foi o Bat. Caç. 96 comandado pelo bravo Ten. Cor. Maçanita. Esta força com nível militar de Batalhão reforçado com engenharia, artilharia e morteiros, como todas as Unidades utilizadas nessa operação, teve a seu cargo o itinerário Este-Oeste progredindo pelo eixo Piri-Rio Luica-Mucondo-Muxaluando-Nambuangongo.
Também esta Unidade teve fortes ataques do inimigo nomeadamente na travessia do Rio Luica embora sem a dimensão do ataque sofrido pelo outro Bat.114 em Anapasso. Foram, contudo, fortes e duros o suficiente para provocar baixas e sobretudo marcas no moral e estado de confiança de parte do corpo de Comando que perdeu alguma unidade e coesão na acção. Não o seu Comandante, Cor. Maçanita, que era um Oficial corajoso e destemido mas em alguns dos seus oficiais que se tornaram mais cautelosos e menos confiantes quanto ao modo e rapidez de progressão.
As consequências tiveram expressão no recurso a pedidos ao Comando Sector 3 de maior apoio logístico nomeadamente ao nível de abastecimento de combustível, mantimentos e munições. O relato do Cor. Carlos Campos e Oliveira, substituto de Maçanita no Comando do Bat.96 e outros relatos, explicam, no livro "A Guerra de África 1961-1974" de José Freire Antunes, como o defeituoso reabastecimento era feito pelo "Quartel-General".  A progressão fazia-se ao nível de Comp.ª que estabelecia o novo acampamento ao fim do dia com luz natural, o que tornava o avanço moroso e pior que isso, permitia o reagrupamento do inimigo e seu planeamento de novos ataques e emboscadas com feridos o que, por sua vez, retardava mais o avanço e aumentava o estado de baixo moral na Tropa.
A todas as faltas e mal-estar interno tentava remedear e colmatar o intrépido Comandante Maçanita sem, contudo, pela defesa intransigente da sua Tropa no campo de batalha, acabar por desenvolver ele próprio necessariamente algum mal-estar com o Comando de Sector 3 e também com o Quartel-General. E, estando o Bat. 96 em Muxaluando a poucos Kms e prestes a fazer o assalto final sobre Nambuangongo, o caldo de relações entre O Comandante do Bat. e o Comando de Sector 3 na Tentativa e Comando Geral em Luanda, confrontaram-se como se de inimigos se tratasse. O caso não era para menos.
O Cor. Maçanita, após longa marcha, feridos e mortos tombados sobre as picadas e deixados enterrados nos acampamentos, no momento do assalto final para atingir e tomar o objectivo principal, recebe ordens ao mais alto nível para parar e esperar que os Pára-Quedistas de Luanda fossem lançados sobre Nambuangongo e deste modo ficar com os louros da vitória: uma original operação montada para acalmar e sossegar a impaciência de inactividade dos Páras em Luanda,  retirar ao Maçanita e oferecer os louros aos Páras e que, sobretudo, permitiria fazer uma acção de propaganda para consumo internacional tanto mais que nesse lançamento estava incluído o jornalista Artur Agostinho preparado para o "relato", de ênfase à desportiva, do acontecimento. A operação de propaganda teria sido tomada para aliviar a pressão internacional que, naquela altura, na ONU votava inteira contra Portugal e era crucial para a argumentação da diplomacia portuguesa a afirmação do domínio e soberania da totalidade do território angolano.
Segundo relatos constantes do referido livro atrás citado o Alferes Jardim Gonçalves diz que Maçanita respondeu, "Vou entrar em território inimigo e vou com fogo" e mandou fechar todos os rádios proibindo qualquer telegrafista de os abrir. O citado Cor. Campos e Oliveira diz,"O Maçanita respondeu que faria fogo sobre os pára-quedistas quando eles estivessem a cair como pássaros". Manuel Catarino no "Correio da Manhã" diz que Maçanita respondeu, "Quem entra ali sou eu. E se lançarem pára-quedistas vou tomá-los como inimigos, porque não sei se são portugueses", e desligou o rádio para não receber mais mensagens.
Deste modo o Bat. 93, com o Ten. Cor. Maçanita à frente da Comp.ª 103 entrou triunfante em Nambuangongo às 17.45H do dia 09Agosto1961. Para Maçanita nenhuma respeitabilidade militar lhe podia retirar os louros da victória que o sangue dos seus Soldados e a sua bravura conquistara.
O nosso Comandante Cap. Rui Abrantes do Esq. Cav.ª 149, na entrevista dada e reproduzida aqui parte referente ao Bat. 96, foi conhecedor priviligiado dos acontecimentos e refere-se a eles de forma historicamente inofensiva dada a sua condição de militar protagonista, também construtor dos mesmos factos, mas colocado quase em oposição quer do ponto de vista da estratégia militar quer do pensamento e acção no terreno.  
Quando O Cap. Abrantes se refere a Maçanita como militar destemido e teso, quando refere que no Esq. 149 nunca foi exigido mais apoio logístico com reabastecimentos e alimentos, quando se refere que uma ordem sua no 149 era rigorosamente cumprida e no 96 não era bem assim, quando se refere ao não lançamento dos Páras em Nambuangongo e depois ao lançamento, dias depois, dos mesmos Páras em Quipedro, para bom entendedor o Cap. Abrantes está-se a referir a todos acontecimentos passados tal como são fielmente descritos acima.