sábado, 22 de setembro de 2012

CONFRATERNIZAÇÃO 2012



     EM COMEMORAÇÃO DOS 51 ANOS DO NOSSO EMBARQUE PARA ANGOLA EM 1961.

ESTE ANO ENCONTRAMO-NOS EM VILA NOVA DE GAIA NO LOCAL DE:

CONCENTRAÇÃO ÀS 10,30 NO PARQUE BIOLÓGICO DE AVINTES, VN DE GAIA

RESTAURANTE     : PÃO QUENTE BARBOSA
MORADA               : RUA CENTRAL de OLIVAL, 2736 SEIXO ALVO - OLIVAL - VN GAIA
TELEFONE             : 22 763 70 60
TELEM.                   : 962 811 672






SÃO PASSADOS 51 ANOS EM CIMA DA NOSSA JUVENTUDE DOS VINTES, O QUE PERFAZ UM TEMPO QUE PARECE ONTEM MAS JÁ FOI HÁ MUITOS ANOS.

AOS QUE TOMBARAM EM COMBATE JUNTO DE NÓS, FORAM-SE JUNTANDO  OUTROS NOSSOS CAMARADAS DE ARMAS QUE AO LONGO DESTE TEMPO, O TEMPO LEVOU. 

DIGNOS SÃO DE MEMÓRIA E HOMENAGEM TODOS ELES. AOS SOBREVIVENTES, ENQUANTO VIVOS E CONSCIENTES, COMPETE MANTER VIVA, MEMÓRIA DELES.

VAMOS, PORTANTO, PRESTAR-LHES ESSA HOMENAGEM DEVIDA E MERECIDA, ALÉM DE QUE É UM DEVER DE ALMA IR VER, ABRAÇAR, FALAR E RECORDAR EM CONJUNTO, AS NOSSAS VIVIDAS HISTÓRIAS DE GUERRA. 

AO TEMPO, UMAS DE CHORO OUTRAS DE ALEGRIA, HOJE SÃO TODAS UMA LEVEZA E FELICIDADE PODER RECORDÁ-LAS EM COMUM.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

FAZENDA MATOMBE

1Ago1961 foi dia de descanso das Tropas e preparação de estratégia militar para a tomada de Zala, a pouco mais de meia dúzia de quilómetros.
Na fazenda Matombe houve, pela 1ª vez, desde Ambriz, ração quente, higiéne de roupa e corporal e fez-se uma ida ao Ambriz para reabastecimento de víveres (comida, shop-shop, como lhe chamávamos).






Analizada a situação e o modo de actuar do inimigo usando a táctica de bater e fugir, em virtude das condições do terreno cada vez mais mais acidentado e coberto de mata fechada, e da concentração do inimigo para defesa de Zala, O Comando tomou novas disposições estratégicas para a progressão dali em diante.
O Comandante Cap. Abrantes, conversando com o Snr. Ribeiro, nosso guia e propritário de uma pequena fazenda de café local, soube por este acerca do respeito para-religioso que os nativos tinham pela noite e que entendiam que a noite era para estar ao fogo e com a mulher na cubata.
Esse conhecimento determinou o Comandante, sem reservas, em avançar de noite e dia sem interrupção.   
Esta medida criou alguma apreensão da parte dos militares mas revelou-se acertada e de grande alcance pois permitiu um avanço seguro sem emboscadas no tempo nocturno.



















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E o Comando, depois da reunião conjunta dos Oficiais
para análise da situação e decidir,
face à táctica do inimigo de bater e fugir
favorecido pelo terreno e outras condições naturais,
optou pela progressão veloz e contínua,
sem paragens além das que o inimigo impunha,
avançando rápido e em força, em cunha,
continuamente, dia e noite, aoSol ou à Lua,
surpeendendo o iniigo, não o deixando emboscar,
pressionando-o a ele e não ele a pressionar,
obrigando-o ao contacto, ao confronto
directo, batê-lo e assustá-lo ao ponto,
de levá-lo
a ter mais medo de nós que nós de enfrentá-lo.


Do livro "Esquadrão 149-A guerra e os Dias" de José Neves

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terça-feira, 4 de setembro de 2012

QUIMBUMBE - CASA ABERTA - FAZENDA MATOMBE

A 28Jul61, deixaram o acampamento de Quimbumbe todo o Esquadrão, incluindo a Tropa adida, como o Pelotão dos Dragões de Luanda, com excepção do 1º e 3º Pelotões que ficaram a guarnecer a posição atingida.
Antes, como contámos já, um Pelotão enviado em missão de reconhecimento caíra numa emboscada donde resultaram dois feridos, na nossa Tropa, sem gravidade.
Percorridos 20 Kms atingimos Quimbunda ao anoitecer, após destruição do quartel local do inimigo, acampámos aqui e na madrugada de 29Jul61 arrancamos em direcção a Casa Aberta. Sentiu-se, desde aqui, que a prograssão era mais demorada e perigosa pois, a picada cercada de floresta densa, em pior estado e mais acidentada, estava semeada de gigantescas árvores derrubadas pelo inimigo e atravessadas em todo o percurso com vista a dificultar ao máximo a nossa progressão.
Tanbém o inimigo, cada vez mais acantonado no seu recuo e em defesa de seus quarteis-generais, mostrava-se cada vez mais frequentemente e melhor armado. Com tais dificuldades de progressão impostas pelo inimigo, atingimos Casa Aberta a 4Kms do estacionamento anterior.


De novo, na madrugada de 30Jul61, antes do arranque da totalidade do Esquadrão do bivaque de Quimbunda, um Pelotão ainda noite, antecedeu a saída das Tropas em missão de reconhecimento, exploração e desobstrução do itinerário. De novo o inimigo atacou emboscado e fez-nos um ferido, que após os primeiros socorros foi evacuado para Luanda. O inimigo actuou com uso de armas automáticas e não só com os tradicionais e artesanais canhangulos.
A 01Ago61 atingimos a região da Bela Vista e o Esquadrão acampou na Fazenda Matombe. Esta era uma pequena fazenda de café, propriedade pessoal, local de trabalho individual e residência fixa do Snr. Ribeiro que nos acompanhou e fez de guia. A Fazenda estava toda destruída e os ossos, dos corpos dos seus familiares comidos pelas hienas, estavam espalhados pelo terreiro à volta de sua casa de fazendeiro pobre.

À medida que avançávamos superando perigos cada vez maiores, íamos ganhando experiência de guerra e mais avisadas e conscientes opiniões iam surgindo acerca da condução da guerra, do modo de avançar com menores riscos, como avançar mais cautelosamente ou mais temerariamente.
O Comandante Cap. Rui Abrantes de tudo tomava nota e, conhecedor não só das opiniões dos seus oficiais, mas também da informação e opinião do Estado Maior de Operações e da situação no terreno das outras Unidades envolvidas na Operação Viriato, começara a imaginar e delinear a estratégia a tomar face ao comportamento do inimigo.


Eram percorridos 110 kms desde Ambriz e estávamos a 30 kms de Zala. Era preciso retemperar forças e definir uma estratégia para enfrentar a tomada de Zala, e de seguida caminhar em direcção a Nambuangongo.

Entretanto, no Quimbumbe, continuavam acampados os dois Pelotões
que ali ficararam guardando aquela posição tomada, por ordem do Cap. Comandante.
A situação aqui começara a complicar-se pela inactividade, pela permanência isolada e exposta a um perigoso ataque do inimigo, por falta de apoio logístico em víveres e correio.

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Entretanto em Quimbumbe, remetidos
ao acampamento e à subsistência,
os Soldados dos Pelotões esquecidos
tinham entrado em falência
de mantimentos e rações de combate,
e paciência.
Sentiam-se meio abandonados e não tidos
em devida conta pela outra parte,
que na frente se batia e abria caminhos,
enquanto eles, sem meios, parados e sozinhos,
sentiam de uma forma ridícula
a sua posição de Tropa de quadrícula.

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Ao quarto dia acabaram-se as rações de combate,
a fome estava instalada e, embora ainda não mate,
abalava fortemente o moral da Tropa toda
que ali estava e decidiu então
ir há caça, embora perigoso e proibido pelo Capitão,
na esperança de fazer uma boda
à roda de um churrasco de veado,
cagando no proibido, perigo e medo que pôe de lado,
pensando muito terra-a-terra
que, entre morrer de fome ou da guerra;
«que se foda».


Do livro "Esquadrão 149 - A Guerra e os Dias" de José Neves.

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