segunda-feira, 30 de julho de 2012

FAZENDA TENTATIVA


Após um curto período de preparação e adaptação de meios e pessoal instalados no Quartel dos Dragões de Luanda, em 14(*) de Julho de 1961 o Esquadrão rumou directo à Fazenda Tentativa onde estava instalado o Comando Operacional do Sector 3, sob comando do Brigadeiro Peixoto da Silva, de quem fica dependente para efeitos operacionais.

(*) - O livro "História do Esquadrão de Cavalaria 149" do Dr. J.A.Pimenta diz que em 14Jul1961 tivemos que nos apresentar no Comando Sector 3 na Tentativa. Na foto abaixo do Sargento Leitão, este numa nota escrita junto aponta a data de 16Jul1961.
Optámos pela data indicada pelo Dr. Pimenta pois sabemos que as notas tomadas por este foram sempre tiradas na altura e em cima dos acontecimentos com vista ao seu futuro relato.
Ao contrário, pensamos que as notas apostas na foto pelo Sarg. Leitão terão sido efectuadas vários anos mais tarde quando o Sarg. Leitão organizou pessoalmente os seus documentos, deste modo sujeitas a lapsos de memória.
Também é nossa impressão de memória que o período de estadia em Luanda do Esq. após desembarque terá sido uma semana e não mais.


Já com o pessoal quase todo instalado nas suas próprias viaturas de combate, abalámos de Luanda impecáveis nas nossas fardas de caqui à cavaleiro, novas e lavadas e com o famoso lenço preto ao pescoço também ainda limpo e vistoso, um quase fetiche que substituíra em parte a farda de Índio made USA alvitrada para desembarque.
Perante o olhar surpreso e desconfiado dos pretos e as palmas dos brancos atravessámos Luanda com um misto de orgulho pelo momento e receio pela incerteza do que nos esperava.
Como jovens investidos destes sentimentos contraditórios éramos mais audaciosos que receosos e querendo mostrar-se garbosos até nos pormenores, as viaturas de transmissões subiram ao máximo as antenas telescópicas dos rádio-transmissores. Aconteceu que algumas antenas tocaram nos cabos da rede eléctrica das ruas o que inutilizou vários aparelhos-rádio. Foi o nosso primeiro percalço de guerra ainda antes da entrada em combate.
Sinal emblemático de que «guerra» não tem nada a ver com «parada».





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Em Luanda, na hora da abalada
partimos de cara e farda lavada,
ar altivo coração em alvoroço,
ao alto dois pormenores ricos,
o queque cavaleiro de dois bicos
e o vistoso lenço preto ao pescoço.


Do livro "Esquadrão 149 - A guerra e os Dias" de José Neves.
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sexta-feira, 20 de julho de 2012

DESEMBARQUE, LUANDA


No dia 07Julho1961 pelas 10,15 Horas o Paquete "Príncipe Perfeito" atracava no porto de Luanda. Transportava o grosso das tropas do Esquadrão 149.
O Paquete "Vera Cruz" que transportava os Sargentos e Alferes chegou no mesmo dia de madrugada a Luanda e atracou ao nascer do sol no mesmo porto de Luanda.
O "Príncipe Perfeito" que abalara um dia antes de Lisboa, fez escala numa das antigas Ilhas Portuguesas do Atlântico por isso chegou a Luanda umas horas depois do "Vera Cruz" que fez directa a viagem Lisboa-Luanda.
Ambos os Paquetes, transporte de tropas onde vinha pessoal do Esq. 149, foram escoltados por navios de guerra da Armada Portuguesa durante cerca de dois dias na zona do Golfo de África.
Para além do problema com os cheiros de tinta fresca no "Príncipe Perfeito" e da deficiente ventilação dos porões da proa, onde vinham instalados muitos militares, e não obstante quase todos tenham passado pelo natural enjoo de mar, as viagens correram sem problema de maior e o pessoal desembarcou em boa forma física e moral pronto a enfrentar a guerra real e dura das balas que assobiam no ar e metem medo.


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Quisemos desembarcar no porto de Luanda
vestidos como Índios dos filmes do Far-West
para enigma de espiões e do Quibanda
que, ao verem Tropa com aquela veste
de peles, penas, plumas, arco e flecha,
correriam à mata a informar, na mexa,
os generais, o comissário e o que manda,
o chefe astuto.
E juntos concluirem que chegara do Puto
naquela data,
uma tropa especial, de guerreiro aspecto
e, avisarem os seus, em quimbundo dialecto;
«saibam que bala de branco não mata
mas flecha mata preto».

José Neves em "Esquadrão 149 - A Guerra e os Dias"

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quinta-feira, 12 de julho de 2012

149 - VIAGEM


Continuamos a publicar, por ordem cronológica as reportagens do 2º Sargento Leitão, grande profissional de comunicações do Esquadrão assim como repórter fotográfico atento às nossas andanças militares.




Viagem marítima no paquete "Princípe Perfeito" rumo a Luanda entre 27 de Junho e 07 de Julho de 1961.


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Barcas novas

Lisboa tem suas barcas
Agora lavradas de armas

Lisboa tem barcas novas
agora lavradas de homens

Barcas novas levam guerra
As armas não lavram terra

São de guerra as barcas novas
ao mar deitadas com homens

Barcas novas são mandadas
sobre o mar com suas armas

Não lavram terra com elas
os homens que levam guerra

Nelas mandaram meter
os homens com sua guerra

Ao mar mandaram as barcas
novas lavradas de armas

Em Lisboa sobre o mar
Armas novas são mandadas


Fiama Hasse Pais Brandão, Obra Breve 1991


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sábado, 7 de julho de 2012

ALFERES RIBEIRO AGOSTINHO


Agora é o nosso forte e valoroso Alferes Ribeiro Agostinho que está em dificuldades com a sua vida.
Já foi submetido e resistiu a complicada cirurgia a orgão delicado. Está hospitalizado mas regressou à enfermaria para tratamentos e assistência médica, parece estar agora fora de perigo grave.
Ele que era uma verdadeira fonte de energia humana e uma força de acção e vontade inesgotável, que tantas lutas na guerra travou e venceu, esperamos e desejamos que ainda guarde dentro de si energia e força capaz de travar esta nova e terrível investida contra a sua existência.
Meu Alferes, sei que depois desta outras investidas se seguirão até à inevitável passagem do ser ao nada. Também sei que eu, mais tempo menos tempo, terei de percorrer o mesmo inexorável caminho para o nada.
Mas nada fará apagar dentro de nós, memória desses momentos terríveis de aflições e medos que passámos juntos sob as balas, assim como os momentos felizes de camaradagem e amizade forjada e cimentada sob vinte e oito meses de perigos de vida passados em comum, noite e dia.
Talvez nem mesmo, o nosso nada futuro.