terça-feira, 15 de março de 2011

UMA VISTA DO 15 DE MARÇO DE 1961

FOTO E COMENTÁRIO MANUSCRITO DE SARG. LEITÃO DO ESQ. CAV. 149


Na noite de 15 de Março de 1961 deu-se o grande massacre da UPA no Norte de Angola, início brutal e trágico da Guerra Colonial.
Desse massacre selvagem eu vi restos apodrecidos e ossos de corpos comidos pelas hienas. Passados cerca de quatro meses, em 30 de Julho de 1961, vi o fazendeiro Ribeiro, proprierário da pequena fazenda Matombe, na picada caminho de Ambriz-Zala-Nambuangongo, no terreno à volta da cubata sua casa, com um pau na mão a dar voltas a restos de corpos já putrefactos e irreconhecíveis à procura de sinais-pistas de identificação de seus familiares alí "capinados" naquele cruel 15 de Março.

Encontrou pedaços de pés em decomposição avançada que reconheceu a quem pertenciam pelas botas e sapatos que resistiram às feras e calçavam os seus familiares naqula noite de barbaridade. E vi as lágrimas incontidas saltarem da dor e aflição daquele pai e marido que ficara só e único naquela noite bárbara.
Vi-o esconder-se no interior da sua casa cubata semi-destruida para derramar o choro irrepimível sobre a mesma terra que fôra sua felicidade, obtida tão dura e suadamente.
Sobre a dádiva do suor e sémen, que fizera daquela terra e local a sua luta pela felicidade, caíra uma noite negra de morte de aço afiado ceifando humanos.
E não havia imprecações ou preces de vingança, num tal momento corpo e alma estão unidos, são um só, embebidos de uma paz interior que permite respirar sem sentir a vida.

Enquanto, também naquele mesmo momento a guerra, à sua e nossa volta, continuava bruta e cruel como naquela noite fatídica.


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